Tenho uma sorte tremenda. Há quase quatro décadas, nasceram, para mim, os Avós. Os mais dedicados. Prestadores de colo com total abnegação. De um amor que sempre foi, em momentos bons e menos bons, um ensinamento para a toda a vida. Como costumo dizer, aprende-se a amar sendo amado. Foram os Avós que nos ensinaram a amar. Experimentando, fomos aprendendo. Sem exigências, sem esperarem retorno, dedicaram-se aos netos e dedicaram-lhes todo o tempo que tiveram. Tempo precioso.
Tenho uma sorte tremenda. Há quase quatro décadas, nasceram, para mim, os Pais. Os Pais são competentes em tudo o que fazem, mas em nada são mais capazes do que nisto de serem pais. Foi sempre assim. Em sorrisos e lágrimas, em borboletas na barriga e brilho no olhar, é por eles que procuro quando olho em redor à procura de sorrisos para pousar o meu, de lágrimas para juntar às minhas, de borboletas para dançar na barriga e de luz para me guiar. Vamo-nos erguendo, sucessivamente, juntos. Agora, já mãe, os Pais nasceram também, como Avós, para os meus filhos. Estou tranquila porque sei que, daqui a uns trinta anos, o João e o Pedro saberão que têm uma sorte tremenda. Sei que reconhecerão o Amor onde quer que o vejam, porque sabem o que é. Estão a aprendê-lo.
Todos os dias,
todos os dias,
o Avô vem buscar os meninos para os levar à escola. Não é necessário, está sempre gente em casa, tenho um horário que me permite levá-los, com calma, a pé, sem confusão, sem pressas, sem nervos, todos os dias. Mas o Avô está cá sempre para os levar. Quer estar presente, quer fazer parte, quer construir memórias, quer dar colo. Com total abnegação. Não cobra de volta. Tem, mas não cobra. E tem porque está a desempenhar bem o seu papel de ensinador de Amor.
Quando eu era da idade dos meus filhos, o meu Avô também me ia levar à escola. Não era preciso.
Todos os dias,
todos os dias,
o Avô ia levar-me. Levava-me a mochila.
Não é preciso, Avô! Mas eu quero. E levava-me a mochila. É esta a imagem que guardo junto das nossas conversas e das amoras que apanhávamos pelo caminho. Agora, é outro o Avô que leva a mochila. As conversas são outras. O Amor é o mesmo. Tal e qual. Daqui a trinta anos, é esta a imagem que os meus filhos terão das manhãs em dias de escola.
Os meus filhos têm uma sorte tremenda.