Até me custa escrever sobre isto. Quem, daqui a milhares de anos, andar a escarafunchar nas nossas coisas, se descobrir estes rascunhos ranhosos, há de datá-los erradamente.
Ao longo desta semana, por motivos vários, a conversa acabou por ir dar, de uma maneira ou de outra, às obrigações de cada elemento de um casal. Comentávamos que hoje em dia já ninguém almoça em casa, que a única refeição em família é o jantar e que os nossos homens, chegados a casa mais cedo do que o habitual, comiam qualquer coisita, caso não houvesse restos do dia anterior. A mim também já aconteceu comer uma malga de cereais refastelada no sofá por não me apetecer cozinhar, descongelar, aquecer ou encomendar o almoço. Não me fez mal. Não me fez bem. Mas que bem que me soube! Agora, todos os dias?
Eu gosto de apaparicar, gosto de dar colo. Acho sempre que o melhor que posso dar de mim é mimo. Mas também acho que porra caraças. Eu não cozinho com a vagina. Uso as mãos: dá-me mais jeito. Ora, o que me distingue do meu homem é o facto de eu ter vagina e ele não. Assim sendo, ele pode usar as mãos dele para preparar qualquer coisa para o almoço dele. Do mesmo modo, cá em casa cada um trata das suas coisas. É sabido que sou uma mãe-galinha. Adoro os meus filhos, por isso são eles que fazem a sua cama. Quero o melhor para os meus filhos, por isso são eles põem a sua roupa para lavar no cesto. Ser mãe é o que mais me satisfaz e é a maior responsabilidade que tenho, por isso são os miúdos que arrumam as suas coisas.
Ainda assim, sinto que a maior parte das coisas está nas minhas costas, mas pelo menos sei que estão a preparar-se para se sentirem capazes rapazes. Não sou eu que os preparo, são eles próprios.
Claro que, pensando bem, o ideal era que fossem os homens cá de casa a cumprir as minhas tarefas também, enquanto mando abaixo, esparramada no sofá, mais uma tigela de cereais ;)