Temos um clube de leitura cá em casa: "A páginas tantas" - sugestão do João. O Pedro gostou da ideia e mal pode esperar por participar nas tertúlias com mais do que livros com poucas letras.
Depois de despachar os novos, fui buscar os meus clássicos. Tem sido um espanto relê-los agora, depois de tanta vida entre esta vez e a outra.
Mas hoje, hoje senti um choque que me arrepiou até ao quark mais pequenito. Estou a reler o meu favorito de todos os tempos. Pelo caminho, vou encontrando anotações, poemas (que mania a minha, escrever em tudo o que aceitasse tinta ou carvão), esboços e datas. Não sabia bem por que o fazia, mas tinha mesmo uma obsessão por ir cravando datas em tudo o que me passava pelas mãos. Hoje percebi porquê.
Numas das últimas páginas, entre a emoção das despedidas da história e a emoção de recordar que as lágrimas já me lambiam a cara, naquele dia, na carruagem dos bancos de couro macio, gasto no comboio para o Porto, encontrei uma data. Havia mais: havia a hora exata.
Vinte anos. Vinte.
Como assim o comboio já chegou à Avenida de França?
Perdão, agora é Casa da Música.