Depois do burnout do ano passado, mariekondoizei-me e passei a aplicar os princípios de organização que me faltavam: era mesmo caótica, sem qualquer noção da ordem e da arrumação. Agora, finalmente, sou uma mulher diferente. Tornei-me uma pessoa com brio, uma pessoa que sabe como deve ter uma gaveta, como tem de estar uma prateleira. Essencialmente, passei a ser uma pessoa que não perde tempo com parvoíces e vai direta ao assunto da manutenção de um lar como ele deve ser. Assim, comecei a estender a roupa por ordem. Primeiro, a que sai da máquina logo, só depois a que fica lá, porque o acesso ao tambor é limitado. Para quando uma máquina com a porta do tamanho do painel frontal para enfiarmos lá dentro a roupa já com as molas na corda, quais lenços coloridos amarrados uns aos outros a sairem da boca de um mágico, e depois sacarmos tudo dali já montado para ser só esticar a corda e seguirmos viagem? Estou a brincar. Não estou nada.
Portanto, dantes, as meias iam para o estendal já aos pares. Mas aquilo era um trabalho de merda, porque, enquanto estava ali a tentar encontrar o par, estava sempre a pensar se não seria melhor pô-las a secar à balda e só no momento de apanhar a roupa fazer aquela seleção. Nenhuma das duas me parecia suficientemente satisfatória. Tinha sempre pressa para despachar a tarefa de pôr roupa no estendal e tinha sempre pressa para a recolher. Assim, optei por atirar tudo monte para o estendal e aquilo vai secando para ali. Quanto às cuecas, penduro-as por uma ponta com a mola e, já secas, faço um molho e vão assim para a gaveta. Em dias bons, faço uma espécie de resma de cuecas, esticadas e empilhadas, que aquilo de as dobrar faz muitos vincos. Parecendo que não, tê-las assim faz-me ganhar espaço na gaveta e poupa-me imenso tempo quando vou buscar uma delas: é ir tirando por cima, uma espécie de mahjong de tangas.
Com lençóis a coisa não é muito diferente. A guru aconselha-nos a tirarmos de casa tudo o que não nos dá alegria. Os lençóis de elástico foram todos com o caraças. Antes isso que andar na net à procura de técnicas para os dobrar. Ou pior: ter que ser eu a descobri-las! As toalhas vão enroladas em forma de tubo para o armário. Quando deixam de caber é sinal que não me trazem alegria e rua com elas.
Mas o que eu queria mesmo era que a senhora viesse cá a casa ajoelhar-se no meio da sala. Enquanto agradecia às paredes por deixarem entrar aqui mais uma maluca, aproveitava para ver se há cotão encalhado debaixo do sofá. A mim já me custa baixar-me.