Não gosto de transições. Todos os anos sou forçada a lidar com elas, algumas bastante bruscas, mas não consigo habituar-me. O verão é tão curto e sabe a tão pouco que nem chego a acostumar, mas custa-me ver a sombra do prédio da frente a invadir-me a cozinha cada vez mais cedo e a brisa a arrefecer aos poucos.
Nesta fase do ano em que ainda estamos com um pé nas férias e outro no trabalho, embora a cabeça tenha ficado presa às primeiras, vejo-me tentada a forçar um ritmo de pausa a um dia-a-dia que já quase não as contempla. Hoje fomos à nossa horta e, aqui, nesta cozinha, é tal a miscelânea de cheiros que nem sei para onde me virar. Duas enormes taças transbordam de maracujás, as ameixas rainha cláudia (que eu insisto em continuar a chamar ameixas dona amélia ???!!!!!???) estão ali em sacos à espera - gostava de fazer uma compota este ano, mas não me parece que até logo à noite sobre uma sequer - e as peras, espalhadas pela banca, vão já parar ao forno num daqueles bolos de massa húmida a que não posso resistir. Vou voltar à minha infância e fazer um sumo de tomate à maneira (estes vão dar compota, não há como evitar), depois de arrumar os vegetais que estão aqui pousados como me deu jeito quando cheguei.
Em cima da mesa, umas folhitas de hortelã já boiam no jarro com limonada e as minhas crias estão de ombros encostados a ouvir uma história. Eu estou embrulhada nos dois, a cheirar-lhes o cabelo e o cachaço e a pensar que as transições são mais fáceis assim: é só vestir um casaquinho e receber o outono.