mais memórias para:
verdepinheiroemsepia@gmail.com

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Pais com pressa

Não sou desses. Tem muito pouca pressa nisso de ver os filhos crescer. As coisas já são suficientemente rápidas para querer imprimir-lhes ainda mais velocidade. Acima de tudo, acho que o crescimento tem mais beleza quando dançamos ao ritmo de cada um deles, com tudo o que os aproxima e apesar de tudo os distingue. É por isso que eu acho o máximo que um dos meus filhos me peça para lhe descascar todos os chupas, gelados, rebuçados, chiclas, prendas e demais cenas que envolvam invólucros e os devore numa fração de segundo e o outro os afaste de mim e me aponte os cotovelos para não me aproximar e o deixar estar ali às voltas enquanto o conteúdo vai derretendo ou melando. É também por isso que eu acho o máximo que um puto adorável venha ter comigo à cozinha e peça a fita elétrica para medir a sala. E é por isso que eu acho o máximo que todos nesta casa já saibam tudo sobre a vida à sua escala, mas eu ainda possa, porque quero, porque me apetece, sempre que quero e que me apetece, dar-lhes a sopa na boca, assoar-lhes o nariz, afagá-los contra o peito, limpar-lhes os restos de cerelac dos cantos da boca com o dedo húmido da minha saliva, beijar-lhes as pisaduras (juro que a dor passa!), consertar-lhes as caneladas, as do futebol, as dos móveis, as da vida. 
Não tenho pressa nenhuma. Nenhuma.