Quem descobriu a pólvora, inventou a roda ou encontrou a penicilina devia achar que fazia grande favor. A pólvora magoa. Ah, pois é! E se não tivessem inventado a roda n´ão haveria agora tantos carros a dar cabo do ambiente e, acima de tudo, a roubar os lugares de estacionamento aqui em frente. Já para não falar do que a penicilina faz às nalgas de uma pessoa.
Agora, o estrato social... isso sim, uma invenção de se lhe tirar o chapéu.
Lembro-me de duas situações que fortalecem a minha teoria.
A segunda foi testemunhada por uma amiga daquelas inteligentes e de boa conversa. Não me lembro de quem me contou a primeira, mas tenho pena. Seria pessoa para fazer parte do meu grupo de amigos ainda hoje. Se calhar faz. Mas não me lembro quem foi. Aliás, estou a pensar e se calhar eu até lá estava também, não estou recordada, e presenciei esta pérola:
Porto. Ribeira. Esplanada. Sol. De inverno. Mesa carregada de estudantes de letras, id est, 200 gajas e 1 pirilau. Mesa ao fundo com um elemento feminino da zona. Giraça. Pernoca à mostra. Mamoca também. Começa a troca de olhares entre o elemento masculino da nossa equipa e a ribeirinha. Quer dizer, não seria bem uma troca de olhares, uma vez que as mamas não têm efectivamente olhos. Abáncemos! Vai lá. Mete-te com ela. Senta-te na mesa dela. Mete conversa. Não és homem não és nada. Não vou nada. Mete-te tu na tua vida. Tou aqui bem. Não tenho nada para lhe dizer. Fico aqui a mandar-lhe olhares. Só me envergonham. Deixem-me estar. Olha que é gira. Vai convidá-la para ir ver o rio. Vês, já se vai embora. Nunca fazes nada do que te dizemos. Levantou-se, já não vais a tempo.
E a ribeirinha, as suas coxas e decote caminham em direção à nossa mesa. Vês, quando o Maomé não vai à montanha...
- Oube lá, ó chabalo, num páras d'olhar pra mim porquê? Por acaso tenho a c*na na testa?
Enfiámos todas a cara nas mochilas e passámos, dali em diante, a chamar-lhe ribeirona.
Serra da Estrela. Cão-pastor. Queijo. Neve, quando calha. Estrato social #2. Homem fino, roupa de marca até à ponta dos cabelos, literalmente, não estivesse ele na pista. Filha = ao pai.
- Constança Maria, não saia daqui! Constança Maria, sempre ao pé do pai, sim? Constança Maria, veja lá não escorregue! Constança Maria, olhe que se magoa... Constança Maria, não se agarre ao pai. Constança Maria, deixe as mãos do pai. Constança Maria, não toque na perna do pai, não vê que o pai tem a perna toda f*dida?!
E prontus. É por estas e (muitas) outras que eu amo de paixão o estrato social.