Mãe, posso jogar no teu computador?
Se deixas, ah! tu deixas os teus filhos irem ao teu computador? isso é muito mau para os olhos, é um veneno para a socialização, ainda te estragam o computador!
Se não deixas, ah! tu não deixas os teus filhos irem ao teu computador? isso é muito mau
para o desenvolvimento dos meninos, é um veneno para a autoestima, ainda estragas os teus filhos!
Mãe, vamos brincar para o parque?
Se deixas, pois é! fazem tudo o que querem, as crianças têm que ser contrariadas, não sabes dizer não! estás a dar cabo dos teus filhos!
Se não deixas, pois é! não saem de casa! estão aí em enfiados e não convivem com outras crianças! estás a dar cabo dos teus filhos!
O menino acordou.
Se vais lá, não deixas o miúdo sozinho por um segundo sequer! ele tem que aprender a estar sozinho! estás a impingir medos aos teus filhos!
Se não vais, coitado do miúdo! tem que lidar a solidão sem o apoio da mãe! não os ajudas a enfrentar o medo!
Mãe ajudas-me com os trabalhos de casa?
Se ajudas, logo vi! não crias autonomia no teu filho! como é que ele vai conseguir aprender a estudar sozinho?
Se não ajudas, logo vi! assim o teu filho não vai aprender a fazer os trabalhos com autonomia! como é que ele vai conseguir aprender a estudar sozinho sem a tua ajuda?
Vamos sair, meninos. Vistam os casacos!
Se lhos vestes, bolas! nem os casacos vestem sozinhos! é assim que lhes ensinas a fazer coisas? que raio de mãe és tu?
Se não lhos vestes, bolas! nem os casacos vestes aos meninos! é assim que lhes ensinas a fazer coisas? que raio de mãe és tu?
Os meus filhos fazem asneiras.
Se ralhas, és mesmo cruel! as crianças são assim! queres que sejam uns totós obedientes? sabes o que andas a fazer aos teus filhos?
Se não ralhas, és mesmo negligente! as crianças não podem ser assim! queres que sejam uns deliquentes? sabes o que andas a fazer aos teus filhos?
Na rua.
Se agasalhas os rapazes, está tanto calor! vão transpirar, tira-lhes os casacos!
Se não agasalhas, está tanto vento! depois admira-te se se constiparem!
És mãe antes dos 30, aqui d'el rei que és nova demais, não vais saber criá-los; és mãe depois dos 30, já vais ser mais avó do que mãe. Nascem de parto normal, aqui d'el rei que vais dar cabo do corpo; nascem de cesariana, está mal, porque só és verdadeiramente mãe se os parires naturalmente sem epidural.
Tens dificuldades em aguentar as dores da amamentação e faz-te impressão ir buscar pedacinhos de mamilo à boca do bebé que bolsa sangue das tuas mamas misturado com o leite, aqui d'el rei que não és mulher não és nada se não aguentas uma coisinha dessas, tivesses dado à luz naturalmente e já aguentavas o resto; dás de mamar até aos dois anos e meio, ena que exagero, o menino há de ir para a faculdade ainda agarrado às mamas da mãe.
Decides que dois anos é a idade certa para começar o infantário, aqui d'el rei que os meninos ainda são tão pequeninos, não vão para lá fazer nada, precisam é de estar em casa com os avós e de brincar muito; decides esperar até aos dois anos e meio, cruzes credo, chegam ao primeiro ciclo sem saberem usar um lápis, sem se saberem defender de um murro, sem apanharem varicela.
Não sais de casa há seis anos, aqui d'el rei que não tens vida própria, não podes fazer isso a ti próprias, não podes anular-te assim; vais jantar fora com amigos, deves ser boa pessoa deves, deixas os filhos em casa em vez de estar a cumprir as tuas obrigações.
Ou seja, estão a ver a espada? Estão a ver a parede? Estão a ver-me ali no meio? É isso.
O que vale é que, ao segundo filho, a partir do 5' de conversa já só ouves uma vozinha dentro da tua cabeça a contar até dez: 1 borboleta, 2 bolinhas de sabão, 3 massagens nos ombros, 4 taças de mousse de chocolate, 5 delas com chantilly, 6 mergulhos no mar, 7 férias de verão, 8 sandes de delícias do mar, 9 cheesecakes de frutos vermelhos, 10 crepes de banana. Ok, admito: aos 6, a vozinha interior já só diz pó caralhinho, pó caralhinho, pó caralhinho...