Não acredito na educação. Pelo menos não naquela que muitos, quase todos, defendem como sendo a melhor ou única forma de criar os filhos. Quando me dizem, do alto da suprema sabedoria, que devo ensiná-los a sentar-se corretamente, que tenho que lhes proibir os palavrões, que é minha obrigação impingir-lhes horários, que é preciso ditar-lhes regras, sorrio. Não acredito em nada disso. Se calhar é porque me calhou uma sorte do caraças por ter dois miúdos fantásticos. Deve ser por isso que posso discordar e ir acenando vagamente: a verdade é que nada do que lhes possa dizer se entranhará tanto como o que lhes vou mostrando. O respeito não se ensina. À cooperação não se obriga. Não se impõe a amabilidade. Mas, lá está, às tantas penso assim porque é o que acontece cá em casa, tal como aconteceu lá em casa com os meus pais. É provável que por sempre que tenho que chamar a atenção fazer o possível por meter, lá para o meio das frases, alguns diminutivos e expressões carinhosas, os meus filhos se habituem a fazer o mesmo. É daí que vem a educação: não do que lhes dizemos que têm que fazer, mas do que nos vêem fazer. Essa sim é mais profunda e duradoura. Se me obedecem? Claro que sim. Se reclamam? Não. Fazem-nos porque sabem que é assim que se faz, mas não foi algo imposto. Foi adquirido com o que observam desde que nasceram. E não, não tenho qualquer problema com o dizer-lhe que não, que não podem. Faço-o quando é preciso, mas não é o que prefiro. O que resulta disto tudo? Isto:
Descobriram um pacote de bolachas no armário da cozinha, tiraram duas para cada um (nunca tiram mais para si próprios, pensam sempre no irmão, quer um quer outro) e foram jogar às escondidas enquanto as comiam. Eu estava a apanhar a roupa do estendal e, quando me apercebi, havia migalhas pela casa toda. Não gritei, não ralhei, nem sequer reclamei. Desabafei apenas
Caramba, acabei agora mesmo de aspirar a casa
Nem olhei para eles. Fui pousar o que trazia na mão para aspirar novamente não fossem calcá-las e ainda ter que andar a raspar o chão. Enquanto me dirigia para a lavandaria, ligam o aspirador. Pensei que tinha sido o pai, mas assim que chego ao corredor vejo o João a aspirar o chão.
Filho, deixa que eu faço isso.
Não, mamã. Fomos nós que sujamos. Vai descansar que cansada já andas tu. E tu, mano, vê como se faz, porque quando cresceres mais um bocadinho também te toca a ti.
I rest my case.