O João nunca fez grandes birras. Ou ter-me-ei eu já esquecido delas? Bom, não me ficaram na memória, o que não é mau de todo. Já o Pedro, bem, o Pedro conseguiu ser o rei das birras por estes lados. Tentei de tudo para as evitar, resolver, encurtar, diminuir, enfim, de tudo. Só uma coisa funcionou de verdade: os abraços. Sempre que previa que vinha de lá uma birra daquelas a valer, deixa-o chegar a um ponto de maior irritação e depois ajoelhava-me, com um sorriso nos lábios, cantarolava dentro da minha cabeça uma panpipes qualquer - quanto mais ridícula melhor - e abraçava-o. Se tentasse soltar-se, apertava com mais suavidade mas nunca largando e dizia a mamã gosta mesmo de ti, até assim, no cúmulo das birras. Aquilo desconcertava o miúdo de tal maneira que a birra acabava por se consumir a ela mesma e ele ficava a olhar para mim com ar de a-minha-mãe--coitada--é-mesmo-doida-ou-estará-só-a-fingir-?. Este é um olhar que muito aprecio nos meus filhos.
É o chamado descobrir a pólvora.
E mandá-la pelos ares.