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domingo, 26 de setembro de 2010

Não há nada mai lindo do có estrato social


Quem descobriu a pólvora, inventou a roda ou encontrou a penicilina devia achar que fazia grande favor. A pólvora magoa. Ah, pois é! E se não tivessem inventado a roda n´ão haveria agora tantos carros a dar cabo do ambiente e, acima de tudo, a roubar os lugares de estacionamento aqui em frente. Já para não falar do que a penicilina faz às nalgas de uma pessoa.

Agora, o estrato social... isso sim, uma invenção de se lhe tirar o chapéu.

Lembro-me de duas situações que fortalecem a minha teoria.

A segunda foi testemunhada por uma amiga daquelas inteligentes e de boa conversa. Não me lembro de quem me contou a primeira, mas tenho pena. Seria pessoa para fazer parte do meu grupo de amigos ainda hoje. Se calhar faz. Mas não me lembro quem foi. Aliás, estou a pensar e se calhar eu até lá estava também, não estou recordada, e presenciei esta pérola:

Porto. Ribeira. Esplanada. Sol. De inverno. Mesa carregada de estudantes de letras, id est, 200 gajas e 1 pirilau. Mesa ao fundo com um elemento feminino da zona. Giraça. Pernoca à mostra. Mamoca também. Começa a troca de olhares entre o elemento masculino da nossa equipa e a ribeirinha. Quer dizer, não seria bem uma troca de olhares, uma vez que as mamas não têm efectivamente olhos. Abáncemos! Vai lá. Mete-te com ela. Senta-te na mesa dela. Mete conversa. Não és homem não és nada. Não vou nada. Mete-te tu na tua vida. Tou aqui bem. Não tenho nada para lhe dizer. Fico aqui a mandar-lhe olhares. Só me envergonham. Deixem-me estar. Olha que é gira. Vai convidá-la para ir ver o rio. Vês, já se vai embora. Nunca fazes nada do que te dizemos. Levantou-se, já não vais a tempo.
E a ribeirinha, as suas coxas e decote caminham em direção à nossa mesa. Vês, quando o Maomé não vai à montanha...

- Oube lá, ó chabalo, num páras d'olhar pra mim porquê? Por acaso tenho a c*na na testa?

Enfiámos todas a cara nas mochilas e passámos, dali em diante, a chamar-lhe ribeirona.


Serra da Estrela. Cão-pastor. Queijo. Neve, quando calha. Estrato social #2. Homem fino, roupa de marca até à ponta dos cabelos, literalmente, não estivesse ele na pista. Filha = ao pai.

- Constança Maria, não saia daqui! Constança Maria, sempre ao pé do pai, sim? Constança Maria, veja lá não escorregue! Constança Maria, olhe que se magoa... Constança Maria, não se agarre ao pai. Constança Maria, deixe as mãos do pai. Constança Maria, não toque na perna do pai, não vê que o pai tem a perna toda f*dida?!

E prontus. É por estas e (muitas) outras que eu amo de paixão o estrato social.




sexta-feira, 24 de setembro de 2010

After all you haven't lost that lovin' feelin'

Quando uma bitchy gripe nos ataca e atira para a cama é que percebemos que entra tanta gente conhecida no Top Gun!!
Só me lembrava do Tom, do Val e da Kelly, mas está lá o gajo do Robocop, o de Picket Fences, o dos Heroes, não me lembrava que a Meg Ryan também entrava, o Goose é o do ER?, olha o Mr. Strickland, e o Tim Robbins, chiiii o tipo das Asas nos Pés...
Carregadinho, o raça do filme!

Lembrei-me agora que sempre quis ter um blusão de aviador. Nunca saiu de moda, pois não? E a palavra blusão?


Finalmente entendo a velha máxima com a idade vem a sabedoria.

O que sabia a eu dezona? Que sabia tudo. Que os pais nunca tinham razão. Que os gajos eram como os rebuçados e vinham em sacos de plástico ranhosos. Que ia casar com o Richard Dean Anderson (versão MacGyver) e, de seguida, com o Bret Hart. Que as amigas eram para toda a vida.

A eu vintona? Que, se estudasse bastante, aos trinta tinha um SLK e ensinava em Cambridge. Que não ia casar com o não-sei-das-quantas-que-aparece-no-Stargate. Nem com o Bret. Que algumas amigas eram para toda a vida.

Depois dos 30 sabemos mesmo muito mais. Sabemos que começa tudo a cair. Sabemos que não volta nada a subir. Sabemos que o que enruga não volta a desenrugar sem várias idas à farmácia ao pé da escola. Sabemos que o SLK do vizinho em cinzento é que é giro. Sabemos que uma amiga ficará connosco por vários anos: a Celu Lite. Sabemos onde fica Cambridge. Sabemos que a partir daqui não melhora.

É pena que quem nos manda tanta sabedoria não enfie sorrateiramente umas notas na nossa carteira para irmos corrigir o excesso de conhecimento.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Os girinos dão-nos a volta à vida

De há uns tempos para cá, todos os dias, um casal traz um menino de 4 anos para brincar aqui atrás no parque. Têm ambos um ar desistente, vestem-se sempre de preto e usam uma cara triste. Todos os dias vêm cá. Devem viver perto, mas nunca antes os tinha visto. Parece que o mundo lhes caiu em cima. Caminham lentamente, cabisbaixos, com roupas desbotadas e rasgadas. O menino usa sempre as mesmas sapatilhas rotas. Parece feliz. Não sei que grau de parentesco os une, mas são muito próximos. O preto faz adivinhar o pior. Diria que desistiram da vida. Mas quem dedica tanto tempo do seu dia-a-dia a uma criança e lhe acaricia o cabelo na hora de ir para casa, triste por deixar a brincadeira, não pode ter desistido de nada. Antes muita gente coberta de dourados e vermelho da cabeça aos pés soubesse transformar a tristeza num amor assim. Aquele miúdo é feliz por muito velhas que sejam as sapatilhas.

as coisas favoritas de verde pinheiro em sépia #3


Legumes crus. Feijão verde, nabo, couve-flor, abóbora. Preferência por esta ordem. Provavelmente fruto de uma infância passada no meio do batatal. Mas, no topo do top, tomate (grande) cortado ao meio carregado com meio saco de sal grosso. Pá! Até me cresce água na boca.
Eu e a comida temos uma relação problemática e abusiva. É que não sou capaz de parar. Tenho que comer acompanhada (ou num restaurante muito caro) para me avisarem quando está na hora de parar. A minha sorte é que, durante a gravidez, trabalhava no Porto e podia comer tripas à vontade! E picles. Às 4 da manhã. E litradas de capuccino. Muitas tripas mesmo. A travessa toda só para mim. Ia comer sozinha à quinta-feira. E o restaurante era baratucho. Ainda dizem que os desejos são caprichos...