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domingo, 17 de fevereiro de 2019

Prefiro pintar as unhas em casa. O problema é que não tenho paciência para esperar que sequem e ando durante não sei quanto tempo a jogar ao mikado com talheres, papéis, roupa por arrumar e crianças que não sabem entreter-se sozinhas.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

O João escreveu uma carta de São Valentim!!!!! Pelo que percebi, uma carta muito cândida, ingénua até, de uma doçura que me arrepia. Este menino está pronto para a vida. Que seja boa.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Depois do burnout do ano passado, mariekondoizei-me e passei a aplicar os princípios de organização que me faltavam: era mesmo caótica, sem qualquer noção da ordem e da arrumação. Agora, finalmente, sou uma mulher diferente. Tornei-me uma pessoa com brio, uma pessoa que sabe como deve ter uma gaveta, como tem de estar uma prateleira. Essencialmente, passei a ser uma pessoa que não perde tempo com parvoíces e vai direta ao assunto da manutenção de um lar como ele deve ser. Assim, comecei a estender a roupa por ordem. Primeiro, a que sai da máquina logo, só depois a que fica lá, porque o acesso ao tambor é limitado. Para quando uma máquina com a porta do tamanho do painel frontal para enfiarmos lá dentro a roupa já com as molas na corda, quais lenços coloridos amarrados uns aos outros a sairem da boca de um mágico, e depois sacarmos tudo dali já montado para ser só esticar a corda e seguirmos viagem? Estou a brincar. Não estou nada.
Portanto, dantes, as meias iam para o estendal já aos pares. Mas aquilo era um trabalho de merda, porque, enquanto estava ali a tentar encontrar o par, estava sempre a pensar se não seria melhor pô-las a secar à balda e só no momento de apanhar a roupa fazer aquela seleção. Nenhuma das duas me parecia suficientemente satisfatória. Tinha sempre pressa para despachar a tarefa de pôr roupa no estendal e tinha sempre pressa para a recolher. Assim, optei por atirar tudo monte para o estendal e aquilo vai secando para ali. Quanto às cuecas, penduro-as por uma ponta com a mola e, já secas, faço um molho e vão assim para a gaveta. Em dias bons, faço uma espécie de resma de cuecas, esticadas e empilhadas, que aquilo de as dobrar faz muitos vincos.  Parecendo que não, tê-las assim faz-me ganhar espaço na gaveta e poupa-me imenso tempo quando vou buscar uma delas: é ir tirando por cima, uma espécie de mahjong de tangas. 
Com lençóis a coisa não é muito diferente. A guru aconselha-nos a tirarmos de casa tudo o que não nos dá alegria. Os lençóis de elástico foram todos com o caraças. Antes isso que andar na net à procura de técnicas para os dobrar. Ou pior: ter que ser eu a descobri-las! As toalhas vão enroladas em forma de tubo para o armário. Quando deixam de caber é sinal que não me trazem alegria e rua com elas. 
Mas o que eu queria mesmo era que a senhora viesse cá a casa ajoelhar-se no meio da sala. Enquanto agradecia às paredes por deixarem entrar aqui mais uma maluca, aproveitava para ver se há cotão encalhado debaixo do sofá. A mim já me custa baixar-me.


sábado, 9 de fevereiro de 2019

Uma pessoa guarda os chinelos de verão no armário numa zona assim para o mais recôndita de forma a não estorvar. Há doze anos que é assim. Uma pessoa guarda, também há doze anos, os pijamas de inverno na gaveta do outro lado mais à mão de forma a ser fácil encontrá-los, porque uma pessoa sabe que ir buscar um pijama à gaveta depois de se tomar banho tem que se lhe diga. A gente sai assim meia desorientada, com as extremidades ao relento e nem pensa direito. 
Ora, vai daí, o homem de uma pessoa pergunta lá do quarto, naquela voz desesperada de quem não quer acordar os miúdos mas tem os miúdos a arrefecer onde estão os pijamas? Uma pessoa responde, com receio de acordar os meninos, mas com os pés quentinhos e a boca a tapar a gargalhada, que estão onde sempre estiveram. É a resposta que uma pessoa mais gosta de dar cá em casa. Quando uma pessoa ouve a porta do armário a abrir do lado errado, a gargalhada sai. Mexe que mexe e volta a mexer e o sacana do pijama não aparece. Também é por isso que uma pessoa costuma levar o pijama consigo para a casa-de-banho e o veste praticamente dentro da banheira. Mas enfim, porta abre e porta fecha e nada de pijama. Lá vai uma pessoa apanhar frio nos pés para poder mostrar que ele estava onde sempre esteve, que mais vale ficar arrepiada mas garantir que mostra que tem razão. Quando chega ao quarto, todo o conteúdo do armário do lado errado estava cá fora. Uma pessoa compreende, uma pessoa também fica com náuseas perante merdas como esta. Lá vai o pijama para cima da cama e os pés de volta para o quentinho. Os chinelos de verão, que estavam, no início deste texto, no armário numa zona assim para o mais recôndita de forma a não estorvar, já não voltaram para lá. Ficaram no meio do quarto. Durante vários dias. A estorvar. Mas só estorvavam segundo uma pessoa, porque quem não os guardou nem dava por eles ali no meio do quarto. 

Só não compreende quem não quer compreender. Uma pessoa calça o 37, é um número pequeno para chinelos no meio do quarto. E são fúchsia, que, como todos sabemos, é uma cor discreta.