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terça-feira, 31 de julho de 2018

A mãe é de cristal

Escrevi aqui há uns tempos que o amor é aprendido. O mimo também. E o cuidado.
Numa casa com muito pouca feminilidade, sendo eu própria uma maria-rapaz, há bastantes correrias despojadas, jogatainas cobertas de suor e pouco tempo e disposição para pormenores e salamaleques. Ainda assim, os meus filhos interrompem tudo para me mimar e têm o máximo cuidado na forma como se dirigem a mim. Fazem de tudo para que esteja bem, defendem-me em todas as situações, mesmo (especialmente) quando não tenho razão e terminam todas as conversas comigo com um beijinho repenicado. Há muitos beijos nesta casa, caramba. Têm sempre em atenção a minha suscetibilidade e envolvem-me sempre com carinho. Mesmo quando não é preciso. Ou seja, sempre.




Fiz um desenho, mãe.
Fizeste, Pedro? Mostra lá!
Olha.
Que lindo! Quem são?
Eu, o mano e o pai.
Está muito bonito!


Pausa pensativa, com ar de quem teme ter ferido os sentimentos da mãe


Tu não estás no desenho porque tinhas ido trabalhar.



terça-feira, 24 de julho de 2018

O professor é um recurso obsoleto

Com explicações intensivas durante o ano, resumos de todas as obras e da matéria feitos por outrem e formulários e tabelas de constantes nos exames, já ninguém precisa de professores. Nas escolas, os tablets substituem os livros, que, por sua vez, já substituíam bem os professores, se bem usados. Aqueles, não estes.
Na verdade, se houver destreza quando se lida com o conhecimento, o professor nunca é necessário. É mais um instrumento poeirento na sala, a sua utilidade assemelha-se à de um mapa ou de um apagador.
Mas então e o resto? Ter alguém nos bastidores da aprendizagem que vibra com as conquistas de palma da mão em palma da mão, dedos cruzados de quem espera? O ponto a sussurrar ralhetes do trou du souffleur quando a coisa vai mal? A eficácia é a mesma, acho eu. Mas perde-se muito em brilho no olhar. 

sábado, 21 de julho de 2018

Arrumações com alma

Estou a guardar roupa. Estes momentos deixam-me sempre com borboletas na barriga: casaquinhos que já não servem, dobrados cuidadosamente, meias pequeninas nas quais já não cabem pés, tenho para mim que a nossa garagem conserva mais memórias do que a minha consciência aguenta.
De vez em quando lá vem o arrepio nostálgico. E esse hoje foi mais profundo do que nos outros verões, quando me apercebi que, a partir de certa altura, nas etiquetas do interior dos bolsos onde carinhosamente escrevo o nome dos miúdos, é a caligrafia do João que identifica as peças do Pedro. ❤❤