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domingo, 23 de dezembro de 2012

Não é este tufo de cabelos brancos que me preocupa.

      

Hoje de manhã, tomada pelo sono, dei por mim a lavar os dentes com a pasta dentífrica da pequenada. Li o que dizia para ver se valia a pena parar tudo e recomeçar a tarefa. Em vez de strawberry toothpaste li strawberry cheesecake. Continuei a lavar os dentes.

Não é este tufo de cabelos brancos que me preocupa. 

É a gula. A idade não me tem trazido bom senso.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Já fui uma pessoa indecisa. Agora não. Agora sei bem o que quero.

Passo na lavandaria e vejo uma pilha de chambrinhos empapados em cocó e um monte de roupa ainda com etiquetas para lavar. Pergunto-me do que vou tratar primeiro. Quer dizer, primeiro não...
Passo na cozinha e vejo a loiça toda por arrumar e a toalha por sacudir. Pergunto-me do que vou tratar primeiro. Quer dizer, primeiro não...
Passo na sala e vejo a mesa carregada de casacos, sacos, brinquedos e livros por arrumar e o correio por abrir. Pergunto-me do que vou tratar primeiro. Quer dizer, primeiro não...
Passo nos quartos e vejo as camas por fazer e as janelas por abrir. Pergunto-me do que vou tratar primeiro. Quer dizer, primeiro não...
Passo no escritório e fecho a porta. Nem consigo olhar lá para dentro, tal é a confusão. 
Passo no hall e o tapete tem que ser aspirado e as revistas arrumadas. Pergunto-me do que vou tratar primeiro. Quer dizer, primeiro não...
Trago na mão um prato com uma fationa de bolo de cenoura. Acabaram-se as perguntas. Vou tratar dela primeiro. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Anda para aí tudo a falar acerca do doze do doze de dois mil e doze. Ei que giro!
A malta prende-se com datas que é uma coisa impressionante. Eu não sou nada assim.
Olha, fez ontem cinco meses que nasceu o meu mais novo amor maior. E não era 12/12/12.
Fez no domingo um mês que o João lava a louça do jantar to-di-nha (não, aflitinhos, não é abuso de trabalho infantil, aquilo dá trabalho mas é a quem tem que estar a segurar no miúdo e na louça e a tentar manter a água dentro da banca!). O catraio ainda não começou a comer e já está a dizer "quem lava a loiça hoje sou eu!". A manter-se assim, a badalhoca sortuda que o levar tem que deitar as mãos ao céu. Entretanto perdi-me. O que vinha eu dizer? Ah! (Foi ali a badalhoca sortuda minha querida nora que me distraiu) fez, então, um mês que o menino lava a louça. E não era 12/12/12.  Daqui a um mês acaba-se-me a ramboia (segundo os entendidos, estar de licença de maternidade é igual a estar em casa sem fazer a ponta de um corno - e do outro também) e , quando eu deixar de ser dondoca (sim, já ouvi este mimo) não vai ser 12/12/12. Enfim, a malta prende-se a datas que é uma coisa... Eu não sou nada assim. Nada.

Espera! Hoje é dia doze? Faz hoje doze anos que ando nesta porca miseria profissional. Shei! Tanto tempo. Acho que vou fazer um bolo de maçã para comemorar. Parabéns para mim: 12-12/12/12!
Anteontem fui ao shopping. Estive na fila para lá chegar, na fila para estacionar, na fila para perguntar se havia outro tamanho, na fila para pagar, na fila para comer, na fila para dar de mamar, na fila para regressar a casa. Já fui pessoa para estragar o meu tempo livre naqueles sítios. Agora não tenho ponta de pachorra para estas coisas. Cada vez menos aprecio carneirada, a menos que envolva uma assadeira e muito alecrim, principalmente porque sei de antemão que vou encontrar falta de consideração pelos outros e próprio-umbiguismo da pior categoria. Até para dar de comer aos garotos há correria para ver quem chega primeiro. O cantinho da amamentação estava repleto, um calor do caraças, eu sentia ao mesmo tempo o miúdo na mama, o cotovelo da do lado nas minhas costas, a respiração da do outro lado no meu cabelo, os olhos da da frente na minha barriga. Tudo muito sorridente, ai que fofinho que é o seu, e as cólicas e tal, arrota um aqui, caga-se outro acolá, continua tudo impávido e sereno, como se ninguém se apercebesse desta sinfonia a interromper as conversas das mamãs babadas: nós já estamos a tentar o infacalm, esta não dorme nada de noite, mas é tão bom, não é?, ah pois há lá coisa melhor no mundo. Entra um casal inglês, it's crowded, let's find some place to sit. E eu ali, a ouvir tudo ao longe, como se vários metros nos separassem. Isto hoje está apinhado, alguém comentou. E lembrou-me de pinhas e de como gosto de pinhões, é verdade não me posso esquecer de comprar nozes e figos. Mas não aqui. Vou a uma loja qualquer do comércio tradicional.   

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Às vezes sinto-me mesmo infantil

Levei o João ao colo para o quarto e fingi que o atirava para cima da cama. 

Mãe, não gosto nada destas brincadeiras, porque são perigosas, está bem?

Embrulha!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Depois do polvo à lagareiro, apresento a minha sugestão de rabanadas poveiras:
antes de mais, espalho pela bancada todos os ingredientes necessários enquanto danço com um hula hoop imaginário e canto aos gritos um elefante estava a saltar numa teia de aranha e como via que não caía foi chamar outro elefante para entreter o Pedro, que se ri à gargalhada. Arranjo o pão, demolho-o no leite, mudo a banda sonora para algo mais natalício como o tio Manel tinha uma quinta ia ia ô e o nessa quinta havia um Pai Natal ia ia ô hohoho práqui hohoho práli. O miúdo continua a rir-se perdidamente, mas já vai intercalando com uns beicinhos. Tiro o excesso de leite do pão, a cantar já mais baixinho - o bebé começa a ficar assustado com a brincadeira e vai mostrando o seu desagrado quanto à forma como bato os ovos, energicamente como requer um ole ai uõt fó crismas iz iu. Quando ponho o pão de molho nos ovos já o miúdo chora desesperadamente e o óleo da frigideira salta para todo o lado. Entretanto deixei cair o frasco de canela no chão e tive mesmo que pegar no catraio ao colo para o acalmar. 

Anotei no livrinho de receitas:
menos: o chão ficou um nojo e a placa toda cagada
mais: as rabanadas não estão más de todo 
nota: não aconselhar esta receita a quem canta tão mal como eu


Confesso que estou apaixonada

Pela primeira vez desde que o Pedro nasceu, está um silêncio incrível aqui onde escrevo. Estou na cozinha, vem um cheiro a assado envolvente do forno. De vez em quando levanto-me e vou espreitar. A sala está em modo lusco-fusco, as luzinhas do pinheiro vão acendendo e apagando preguiçosamente, a porta está quase fechada para não deixar sair o sossego. O meu menino dorme na espreguiçadeira, ao pé do presépio. Sinto um arrepio bom, cá dentro, quando olho para ele ali, com as luzes refletidas naquela carinha tão linda. 

Apaixonei-me outra vez. 
Atenção que com isto eu não estou a admitir que ando a ver os programas da manhã, mas ouvir o José Avillez a falar com a Júlia Pinheiro sobre o que faz e a mostrar a criatividade que põe em cada prato, fez-me pensar que eu realmente gostava era de ter escolhido uma coisa destas para fazer na vida. Só me falta mesmo é o jeito. Sardinha assada na pedra da calçada? Caraças. Isto chega a ser literário. 
Eu gosto de coisas simples. Acho que a minha refeição de sonho, neste momento, seria um creme de alho francês com croutons em azeite e alho, um qualquer prato de bacalhau (desde que meta natas) (e broa) (e muita salsa), nem falo do vinho, que só me apetece mesmo quando não posso e até se me cresce água na boca só de pensar nisso, portanto pode ser outra coisa qualquer que meta hortelã e, para terminar, uma fationa de bolo de requeijão ou um queque de chouriço. Já sinto o guardanapo no colo, porra. A vontade de comer é tramada. É melhor ir dormir, que já é uma e meia da manhã.   

Heróis

Mãe, mãe, a roda do meu carro partiu-se.

Oh! E agora?

Agora o vô arranja.

Achas que o vô consegue arranjá-la?

Sim, ele muito forte...

(pausa pensativa)

... porque é muito gordo!





quarta-feira, 5 de dezembro de 2012