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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Lição #1 das aulas a adultos

Quando temos uma ficha de trabalho sobre os tipos e formas de frase elaborada para crianças e queremos transformá-la devidamente para adultos, substituindo "Coloca as seguintes frases na forma afirmativa" por "coloque as seguintes frases na forma afirmativa", convém apagarmos realmente o ca depois do que ou corremos o risco de passar uma grande vergonha...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A vista daqui às 6 da manhã

O vizinho da frente esqueceu-se da luz da varanda acesa. Fere-me a esta hora, a tremelicar assim. Não há mais vida para além da sua hesitação. A rua está vazia. Não há reflexos nos vidros. Não cai uma gota dos telhados. Há apenas alguns carros à espera, outros abandonados. As janelas fechadas, algumas esquecidas abertas. Nem um gato, nem um pássaro. Estão todos escondidos. Não devem gostar desta sensação de vida suspensa. Até as árvores, normalmente em rebuliço, estão paradas. Os candeeiros rompem do chão, estáticos, acesos aqui e ali. Mas nem reparo nesses. Vejo os que a Câmara mandou desligar. Sinal dos tempos. Ouve-se um carro, ao longe, mas nem o som se aproxima. O seu destino não passa por aqui. Ninguém aparece, nada se mexe.
Devia ir para a cama. Devia escrever voltar para cama, mas não: é mesmo ir para lá. Afinal, daqui a a nada, começa o movimento e tudo isto deixa de ter encanto. Custa-me é perder a aurora.

sábado, 12 de novembro de 2011

Terra molhada


Vim à varanda recolher a roupa. Um vento quente que não esperava fez-me levantar o cabelo de um lado para o outro num movimento incessante daqueles que nos parecem levar para outro sítio que não conhecemos.
Apanhou-me desprevenida esta lestada persistente, que teima em me pairar sobre a pele. Penso que é isso o arrepio perfeito: aquele que nos faz levitar por dentro com os pés agrafados ao chão.
O arrepio que senti à primeira pancada do vento na minha cara levou-me a querer ficar mais um pouco. E sentir o cheiro a está quase a chover. Adoro este cheiro. Faz-me voltar a outros locais e momentos que nem sei bem quais são. É o cheiro anterior àquele de que todos falam, por acharem piada à terra molhada depois de não chover há muito tempo. Prefiro o que vem antes desse. O da promessa. Da expectativa.

Aguardo os primeiros pingos de braços estendidos para fora da varanda. E cai um. Depois outro. Param. Oh! Parecia que ia chover!

E chove. Quando já não a esperava outra vez, a chuva cai com uma violência impressionante. O vento parece perder a fibra com que me recebeu há bocado. É um triste. Fugir por causa de uma chuvinha destas!

E daí... já estou um pouco molhada e agora o arrepio já não é tão estimulante e deixou de me isolar do mundo cá dentro. Sinto genuinamente que me perco de mim quando os meus poros se contraem assim. Vou para dentro antes que estrague o computador.

Sou uma triste! Fugir de uma chuvinha destas...



Raios! Deixei lá a roupa!