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domingo, 25 de setembro de 2011

Tenho que arranjar um cãozinho

Hoje acordei tarde! Quando cheguei à varanda já tinha começado o ritual das vizinhas cá da rua no passeio matinal com os respetivos cãezinhos. Já se ouvia a mangueira do administrador do condomínio da frente, que, cumpridor do seu dever, rega as plantas todos os santos domingos.
A dada altura as vizinhas escancaram a boca, especadas a olhar para cima.
Afinal o barulho da mangueira não era do administrador, mas de um morador que, de uma varanda do 4º andar, lavava o carro lá em baixo. Regava-o lá de cima e depois descia as escadas a correr para ensaboar o veículo. Voltava lá para cima e enxaguava. Descia novamente e esfregava mais um pouco. E andou nisto o resto da manhã. Eu também gostava de ter uma moradia, com vários hectares de quintal. Mas até lavo o carro de outra forma.

Tenho mesmo que arranjar um cão. Desconfio que ando a perder umas coisitas por não ter animais que cagam na rua.
O céu está carregado. Tenho que me despachar. Saio da frutaria carregada de sacas carregadas de fruta. Passo apressado, não vou aguentar até casa sem pousar isto tudo no chão. Só mais um bocadinho, só mais um bocadinho!... Ai ai ai... Mas tenho que aguentar! Não vou pousar isto no chão imundo! Ai ai ai... Tenho que me concentrar, a dor nas mãos e nos braços é só psicológica! Os dedos não estão inchados, nem os braços a ceder ao peso. Ai ai ai...
Cruzo-me com uma velhinha mesmo ao virar da esquina da minha rua. Arrasta-se com um saquito que não deve ter mais do que dois pães. Na mão traz o talão das compras, que lhe voa com uma rajadazita de nada.
Lá pouso as sacas no chão (pegajoso e cheio de nódoas), apanho o talão e entrego-lho, coitada, que não se pode agachar.

- Ah, minha querida, não quero isso para nada. Fui eu que o deitei fora. Já agora faz-me o favor de o pores no lixo e que Deus te pague quando quinares!



Hein?!?