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quinta-feira, 31 de março de 2016

Lista de compras hardcore

Depois da secção dos legumes, lembrei-me que faltava a latinha de vasenol para o cieiro dos miúdos, aqueles autocolantes que se põe no pé da cadeira para não arranhar o chão e os guardanapos. Com jantarada logo à noite, ainda tínhamos que correr muito para conseguir ter tudo pronto a horas. 
- Vai ao fundo do corredor buscar a proteção que eu trato da vaselina. Anda que ainda temos que despachar os miúdos para os meus pais. Ah! E lembra-te de não por tudo em cima dos tomates. Já sabes que ficam todos pisados. - disse-lhe eu esbaforidamente, enquanto olho para o lado e dou de caras com um senhor que mantinha a boca aberta até ao umbigo.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Contar até dez

Somos constantemente assaltados por anúncios que prometem salvar-nos nas lides domésticas. Com o aparecimento de perfis de completa inutilidade, a coisa agravou-se visivelmente. Desde Temos a solução para deixar as suas panelas a brilhar ou Acabe com os borbotos nas suas camisolas ou ainda Diga não às rugas com esta mistela nojenta, há de tudo um pouco. E depois, a malta deixa esturricar o jantar enquanto lê essas merdas. Aí sim vai precisar de saber qual é a tal solução para "deixar as suas panelas a brilhar", abrir a janela e, num vídeo rasca em fast foward, ler as legendas em letras garrafais: espalhe sal grosso e vinagre sobre a panela e esfregue durante quatro horas.

Cumplicidade

Tanto correm pela casa fora um atrás  do outro,
não entendendo o sofá como um obstáculo que encontram pelo caminho,
como se aninham ali,
num não-começa-nem-acaba perfeito.

sexta-feira, 25 de março de 2016

O Jardim das Aromáticas em Serralves

A entrada pela quinta é maravilhosa. Os olhos perdem-se naquele espaço embebido em verde. Os meus filhos, que têm radar para estas coisas, vão diretos aos animais e deliram com os cavalos, as ovelhas e as galinhas. Continuamos o percurso, com o João à cata de dentes-de-leão e o Pedro a soprá-los com quanta força tem. A nossa atenção deita-se na paisagem, que nos absorve por completo. Repentinamente, chegamos ao Jardim das Aromáticas e eu, que o desconhecia, sinto-me a pairar. Uau! Estão cá todas! Isto é paradisíaco! Esfreguei a mão que tinha livre em todas as ervas e levei-a ao nariz como se de um tesouro se tratasse. Teria lá ficado o resto da manhã, não fossem os outros pedacinhos do Éden que ainda faltava visitar. E continuei o meu caminho de (c)alma cheia.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Ciberindignação

Vou deixar de ir ao facebook. De cada vez que lá vou salta-me um anúncio para a fronha a dizer que alguém que já foi meu aluno atinge nesse dia a idade que eu tinha quando lhe dei aulas. Cambada de mentirosos, pá!

sábado, 19 de março de 2016

Ligou-me uma amiga.

Fui comprar prendas de Páscoa para os teus filhos. Entrei em todas as lojas e, em todas, a conversa foi Se é para os filhos da fulaninha de tal, é melhor não levar essa peça. Ela gosta mais desta. Porra, pá! É que és mesmo chata! Controlas tudo, mesmo quando não estás, mesmo que nem saibas o que estamos a fazer. Bolas, pá!


E é isto. Verde Pinheiro em Sépia a torrar a paciência na baixa desde mil nove e setenta e tal.

domingo, 13 de março de 2016

Com que então o menino não gosta de deixar pinturas por mãos alheias?

Acabo de chegar com o Pedro de uma festa de anos. Recusou-se terminantemente a fazer uma pintura na cara. Fosse do que fosse. Gatinho? NÃO! Tigre? NÃO! Homem Aranha? NÃO! Uma porra qualquer? NÃO! NÃO! NÃO! NÃÃÃÃÃO!

Quando chegamos, pus a água a correr e disse-lhe para ir tirando a roupa enquanto ia buscar o pijama. Infelizmente, esqueci-me do delineador de olhos em cima do armário na casa de banho. E a pintura facial sempre se fez. Pelas mãos do próprio. 

sexta-feira, 11 de março de 2016

Não sei o que há na antiguidade que me fascina assim

Quando era miúda, faziam furor os filmes que tivessem lugar num futuro esquisito, com malta a tomar um comprimido para despachar o pequeno-almoço, a meter-se num hovercraft a caminho do trabalho e a vestir porras que mais pareciam feitas de sacos do lixo carregados de goma. Nunca achei grande piada a isto. Pareceu-me sempre tudo um grande disparate e, agora, posso comprová-lo: em que século estamos? Em que ano estamos? Eu cá continuo a ver o pessoal a sacar as remelas com água da torneira; a enfiar um pão com manteiga no bucho enquanto procura as chaves do carro, de quatro rodas, que só andam na estrada, sem asas, fuminhos e faíscas estranhas a sairem-lhe do escape; a ir trabalhar com ar de enfado e já muito chateado porque não encontrava as chaves. 
Agora, filmes de época, esses sim já eram para mim. Adorava imaginar-me naqueles tempos, com aquelas indumentárias, aqueles costumes. É uma parvoíce, bem sei, porque não haveria, com certeza, o conforto que há hoje, mesmo sem comboios a atravessar os céus e leggings justas de plástico preto (ups...). Mas até eu já me habituei às minhas parvoíces e nem as questiono. 
Há uns dias, cruzei-me com fotografias antigas, com mais de um século, da cidade onde vivo. Fui vendo os prédios serem acrescentados, a vista para o mar desaparecer, o monte que via lá ao longe ser tapado, o descampado onde brincávamos na lama ser ocupado, as casas novas serem casas velhas e as velhas ruírem. Fui-me habituando a estes novos cenários, mas, quando vejo estas fotografias, transporto-me imediatamente para aquelas ruas que agora calco tantas vezes, para lá e para cá, e sinto-me em casa. Nunca lá estive. Mas sinto-me em casa.

domingo, 6 de março de 2016

Sabemos que estamos no bom caminho

quando, não estando o irmão por perto, damos uma bolacha de chocolate ao Pedro e ele a parte ao meio, pousa metade no prato do João para ele comer quando chegar e come a outra metade.

sábado, 5 de março de 2016

O que havia dantes no fim de semana e agora não há?

Duas coisas: o hífen e o sossego.

Dia de semana
Esta mãe - Vamos lá! Toca a acordar! Vamos!
Os filhos - Huuuummm... só mais um bocadinho...
O pai - rrzzz... rrzzz...

Fim de semana
Os filhos - Vamos lá! Toca a acordar! Vamos!
Esta mãe - Huuuummm... só mais um bocadinho...
O pai - rrzzz... rrzzz...