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sábado, 31 de dezembro de 2011


Continuo, todos os anos, neste dia, a sentir o vento na cara, a vibração no estômago, o cheiro do rícino do escape, a mesma emoção de sempre.


domingo, 11 de dezembro de 2011

Quais rankings quais quê?

Como avaliar o melhor sistema de ensino ?

Como explicas o aumento de população em Portugal na segunda metade do século XIX?

"Entruduçam de macinas e aduvos címicos na agricoltora."

(cotação completa: a informação pedida está lá, bem como o uso perfeito da preposição, da conjunção e da contração. Atenção ao pormenor do ponto final!)

A que se deve a crise económica que atravessava o nosso país em meados desse século?

"Porcau-sa da rebulusão fransesa"

(cotação completa mais uma vez: informação? check! apesar da falta de pontuação, há que dar valor ao uso (indevido?não importa!) da anáfora não correferencial em tão terna idade!

Fosga-se que estes putos sabem de carago!! Assim vale a pena!!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Lição #1 das aulas a adultos

Quando temos uma ficha de trabalho sobre os tipos e formas de frase elaborada para crianças e queremos transformá-la devidamente para adultos, substituindo "Coloca as seguintes frases na forma afirmativa" por "coloque as seguintes frases na forma afirmativa", convém apagarmos realmente o ca depois do que ou corremos o risco de passar uma grande vergonha...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A vista daqui às 6 da manhã

O vizinho da frente esqueceu-se da luz da varanda acesa. Fere-me a esta hora, a tremelicar assim. Não há mais vida para além da sua hesitação. A rua está vazia. Não há reflexos nos vidros. Não cai uma gota dos telhados. Há apenas alguns carros à espera, outros abandonados. As janelas fechadas, algumas esquecidas abertas. Nem um gato, nem um pássaro. Estão todos escondidos. Não devem gostar desta sensação de vida suspensa. Até as árvores, normalmente em rebuliço, estão paradas. Os candeeiros rompem do chão, estáticos, acesos aqui e ali. Mas nem reparo nesses. Vejo os que a Câmara mandou desligar. Sinal dos tempos. Ouve-se um carro, ao longe, mas nem o som se aproxima. O seu destino não passa por aqui. Ninguém aparece, nada se mexe.
Devia ir para a cama. Devia escrever voltar para cama, mas não: é mesmo ir para lá. Afinal, daqui a a nada, começa o movimento e tudo isto deixa de ter encanto. Custa-me é perder a aurora.

sábado, 12 de novembro de 2011

Terra molhada


Vim à varanda recolher a roupa. Um vento quente que não esperava fez-me levantar o cabelo de um lado para o outro num movimento incessante daqueles que nos parecem levar para outro sítio que não conhecemos.
Apanhou-me desprevenida esta lestada persistente, que teima em me pairar sobre a pele. Penso que é isso o arrepio perfeito: aquele que nos faz levitar por dentro com os pés agrafados ao chão.
O arrepio que senti à primeira pancada do vento na minha cara levou-me a querer ficar mais um pouco. E sentir o cheiro a está quase a chover. Adoro este cheiro. Faz-me voltar a outros locais e momentos que nem sei bem quais são. É o cheiro anterior àquele de que todos falam, por acharem piada à terra molhada depois de não chover há muito tempo. Prefiro o que vem antes desse. O da promessa. Da expectativa.

Aguardo os primeiros pingos de braços estendidos para fora da varanda. E cai um. Depois outro. Param. Oh! Parecia que ia chover!

E chove. Quando já não a esperava outra vez, a chuva cai com uma violência impressionante. O vento parece perder a fibra com que me recebeu há bocado. É um triste. Fugir por causa de uma chuvinha destas!

E daí... já estou um pouco molhada e agora o arrepio já não é tão estimulante e deixou de me isolar do mundo cá dentro. Sinto genuinamente que me perco de mim quando os meus poros se contraem assim. Vou para dentro antes que estrague o computador.

Sou uma triste! Fugir de uma chuvinha destas...



Raios! Deixei lá a roupa!


sábado, 29 de outubro de 2011

midautumn's night dream

Quando era miúda, vivia numa casa rodeada de árvores, ao lado de uma quinta. Era um ambiente bucólico durante o dia, assustador à noite. E havia um sonho que me acompanhava a partir do dia em que a hora mudava e às 5 da tarde já era de noite: tentava ir da porta de casa até ao portão e vir, sem companhia, sem luz e sem me borrar toda. A meio da viagem para cá, já com aquela sensação do falta-pouco-é-só-mais-um-bocadinho, aparecia uma bruxa, muito engelhada, com uns olhos assustadoramente penetrantes. Enquanto eu corria, corria e parecia não sair do sítio, a velhota era cá com cada sprint! As unhas negras e quebradas arranhavam-me a camisola atrás e eu corria mais depressa e parecia que escorregava. Ainda me lembro do alívio que sentia quando finalmente passava a porta da cozinha acordava.
Hoje é dia delas. Já sei que vou passar a noite a correr. Gostava que me deixassem dormir. Estou cansada. Mas não creio que o façam. As bruxas são, como acabo de ler num teste, muito enconchientes.


domingo, 25 de setembro de 2011

Tenho que arranjar um cãozinho

Hoje acordei tarde! Quando cheguei à varanda já tinha começado o ritual das vizinhas cá da rua no passeio matinal com os respetivos cãezinhos. Já se ouvia a mangueira do administrador do condomínio da frente, que, cumpridor do seu dever, rega as plantas todos os santos domingos.
A dada altura as vizinhas escancaram a boca, especadas a olhar para cima.
Afinal o barulho da mangueira não era do administrador, mas de um morador que, de uma varanda do 4º andar, lavava o carro lá em baixo. Regava-o lá de cima e depois descia as escadas a correr para ensaboar o veículo. Voltava lá para cima e enxaguava. Descia novamente e esfregava mais um pouco. E andou nisto o resto da manhã. Eu também gostava de ter uma moradia, com vários hectares de quintal. Mas até lavo o carro de outra forma.

Tenho mesmo que arranjar um cão. Desconfio que ando a perder umas coisitas por não ter animais que cagam na rua.
O céu está carregado. Tenho que me despachar. Saio da frutaria carregada de sacas carregadas de fruta. Passo apressado, não vou aguentar até casa sem pousar isto tudo no chão. Só mais um bocadinho, só mais um bocadinho!... Ai ai ai... Mas tenho que aguentar! Não vou pousar isto no chão imundo! Ai ai ai... Tenho que me concentrar, a dor nas mãos e nos braços é só psicológica! Os dedos não estão inchados, nem os braços a ceder ao peso. Ai ai ai...
Cruzo-me com uma velhinha mesmo ao virar da esquina da minha rua. Arrasta-se com um saquito que não deve ter mais do que dois pães. Na mão traz o talão das compras, que lhe voa com uma rajadazita de nada.
Lá pouso as sacas no chão (pegajoso e cheio de nódoas), apanho o talão e entrego-lho, coitada, que não se pode agachar.

- Ah, minha querida, não quero isso para nada. Fui eu que o deitei fora. Já agora faz-me o favor de o pores no lixo e que Deus te pague quando quinares!



Hein?!?

domingo, 21 de agosto de 2011

Plurissignificação e subjectividade



Hoje fomos apanhados por uma grande chuvada acompanhada de trovoada. Ainda tentei manter-me na praia, mas a coisa agravou-se e foi impossível. Estava ao pé do mar, corri o mais rapidamente que pude até ao carrinho do miúdo, agarrei em todas as nossas tralhas que estavam espalhadas pelo areal, enfiei-as nos sacos aleatoriamente e percorremos dois quarteirões, no meio da debandada geral (à nossa frente, um guarda-sol com pernas quadradas e mal depiladas e um bebé ao colo corria e gritava com voz máscula "Eia, man, que parecem Kalashnikovs!"), para encontrar uma varanda que nos protegesse. Ela ficava por cima de um café. À porta estava um cavalheiro a apreciar a confusão, fumando um cigarro pensativo, como dizia o outro. Eu levava o João no carrinho e os sacos todos pendurados. Afastou-se milimetricamente para nos deixar aproximar: "Chegue-se para dentro, agasalhe o menino!", disse amabilíssimo. Eu ia aproximando toda a carga do senhor e ele ia repetindo Chegue-se, chegue-se, que ela cai forte!
O chuveiro foi abrandando, calmamente, até que parou em definitivo. Mas o homem achava que não, que ainda caía forte ou que ainda voltaria a cair e insistia e insistia. Lá nos fizemos ao caminho, para regressar a casa.
Uns metros depois apercebi-me que levava uma mama de fora.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Venho enternecida de uma visita ao zoo. O que eu admiro gestos de respeito e carinho e solidariedade e entrega. Uma senhora não quis aborrecer os animais do zoo, cometendo a grave falta de utilizar a expressão "apanhar no focinho". Mãe dedicada, ia passeando o seu cigarro, deitando aqui e ali, pelo canto do olho, intensa atenção a um rapazinho que, pelos vistos, está a aprender a andar sozinho. A dada altura o miúdo cai, depois de tropeçar num paralelo: "Se te magoas dou-te! Tu hoje ainda vais levar nos olhos!".

Que delicadeza! Que sensibilidade! Venho enternecida da visita ao zoo.


domingo, 17 de julho de 2011

Orgulho marsupial


Ontem à noite, esta casa testemunhou algo que me deixou boquiaberta: o meu avô de 92 anos, que já se arrasta um bocadito para chegar ao café, jogou à bola com o João com uma genica fantástica, com direito a fintas e grandes acrobacias!
As crianças despertam-nos a juventude (como eu gostava de me lembrar disto nas noites em que não dormi nada para lhe dar de mamar...) e ajudam-nos a regressar aos tempos em que éramos mais nós do alguma vez voltaremos a ser.

O pirata trouxe-me tanto de novo, mas também me lembra todos os dias de quem me compõe. Lembra-me o gosto pelas coisas do campo dos meus avós paternos, o sorriso protector da minha avó materna, as mãos ternas do meu tio, a cara e o cabelo inesquecíveis do meu irmão, o incrível engenho do meu pai, a inteligência encantadora da minha mãe e, pelos vistos, segundo a própria, o indiozinho também tem o queixo igualzinho ao da minha tia paterna.

Parece que herdou o jeito para futebol do meu avô materno. Ah! Os bons velhos tempos do Sport Progresso de Paranhos...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Coisas boas


Nos dias em que tudo corre bem, lembro-me que sorrio quando

leio as páginas do lado direito de um livro, as que me permitem pousá-lo no colo e ocupar as mãos com um copo de batido de maçã e o pacote de bolachas

encontro espontaneamente amigos que já não vejo há anos

estou perante uma turma inteira bem disposta e com vontade de aprender

sinto a água do mar nos pés pela primeira vez no ano

revejo o mesmo filme que já vi dezenas de vezes e antecipo as cenas

ponho alguém a chorar a rir

janto no verão sem ter que ligar a luz da cozinha

lambo a tampa do iogurte

tenho que ler um documento chato e descubro que a última folha só tem uma página escrita

converso com música de fundo e a letra combina com o tema da conversa

rapo a bacia em que bati a massa do bolo

fico na praia até às 20 horas num dia de calor

chego antes da hora marcada

tenho vontade de sorrir a meio de um beijo

recordo o cheiro da minha escola primária

solto o cabelo depois de andar todo o dia com rabo de cavalo

bebo chocolate quente, mesmo quando está calor

digo bom dia

cheiro hortelã

adormeço a ouvir a chuva

estreio uma caneta

estou sozinha em casa, com a música nas alturas, a cantar aos gritos e a dançar desenfreadamente

vejo a carpete da entrada aspirada

observo alguém de quem gosto a dormir em tranquilidade.



Tenho saudades desses dias.



Por outro lado, hoje só detesto velas de cheiro e o frio que sinto quando saio do banho.



Nada mau.

domingo, 10 de julho de 2011

A última grande nalgada na minha última grande obsessão

Há um ano, estava ainda a dar de mamar e tinha uma mania gigantesca: não podia apanhar nada para não o passar ao miúdo.
Ora, em plenas matrículas, um dos alunos que tinha reprovado chegou cabisbaixo, envergonhado. Sentou-se à minha frente, depois de me cumprimentar, e ali ficou a olhar para o chão. Achei que alguma coisa estava fora do sítio, mas não me apercebi logo do que era.
Depois de preenchidos todos os documentos, perguntei se estava tudo bem.

Oh, nem por isso. Não tenho sorte nenhuma. Veja lá: não me chegava ter reprovado (andaste todo o ano a brincar), ainda apanhei varicela (salto para trás)... e estou com piolhos! (ahhhhhhhh!!!!!!)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

São João

Quando era miúda, íamos para o actual recinto onde se faz a feira do artesanato em vila do conde levar marteladas na tola e comer algodão doce. Sempre que me lembro disto, vem-me aquele sabor cor-de-rosa à boca e parece que fico com as mãos pegajosas. Acho que nunca me conseguiram acertar com a parte fofa do martelo e aquilo dói que é doer! Mas lá estávamos, ano após ano, a percorrer os caminhos em terra vermelha partidos a meio por bancos de jardim em ferro pousados nas fatias de relva.

Também havia pipocas coloridas! Mas o algodão doce...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dia da Criança




As fugas para a bouça de onde voltávamos com ratazanas enormes agarradas pela cauda para assustar as vizinhas;
O calipo de coca-cola a escorregar pelos dedos enrugados de tardes inteiras a apanhar ondas no mar;
Mil e uma mãos dentro do alguidar carregado de pardais fritos;
O verde sem-fim da quinta de beiriz a espreitar-me pela janela do quarto;
As mangueiradas de alívio durante a madrugada na Idanha, logo depois de uma história de terror contada debaixo dos lençóis com a lanterna sem pilhas;
Esparguete e ovo estrelado quando não apetecia comer;
As rãs esturricadas nas tampas de saneamento do rosmaninhal às 4 da tarde;
O taz, o bip bip, o coiote e speedy na tv galicia.
Sacar as chaves do carro às escondidas e ir dar uma volta curta.
Os risos.
Os murros no estômago só para ver se dói muito.
Os bilhetes de desculpas por baixo da porta do quarto.
Os sonhos.
Os planos.
As certezas.





segunda-feira, 16 de maio de 2011

Apesar de ser uma invasão (ainda que não identifique os intervenientes), não podia deixar de vir aqui guardar, neste meu baú de memórias, a cena romântica mais enternecedora a que já assisti.
Lembro-me (razoavelmente) bem de como me sentia de coração partido nos meus idos teens. E agora, apesar da carapaça racional endurecida pelo tempo (cof cof), estes momentos continuam a deixar-me de lágrimas ao canto do olho/a escorrer-me pela cara abaixo.
Na semana que passou, partiram o coração a um dos meus miúdos. Passou a aula inteirinha a chorar (ora cá está mais uma desvantagem das aulas de 90 minutos! É tempo a mais para um coração despedaçado se lamentar): cabisbaixo, chorava baixinho, como se miasse. Acabou por deixar de fazer barulho, não fosse incomodar os colegas, e recusou cada convite para sair da sala e "ir apanhar ar". Foi chorando, até que olhou para cima, limpou os olhos e pediu para ir lavar a cara. Chorar assim, na frente de todos os colegas, não deve ser fácil. Enquanto esteve fora, passei pela cadeira vazia. Em frente, no caderno, abrira-se uma cratera. Mesmo no centro das folhas. Caíram-lhe tantas lágrimas que o papel se desfez. Senti um calafrio. Não comentei. Todos viram. Ninguém disse nada. Arrancaram-lhe as folhas quebradas pelo buraco e deixaram o caderno no sítio. Ninguém disse mais nada sobre o assunto e, quando tocou, saíram todos da sala com os olhos vermelhos. Eu também.

domingo, 8 de maio de 2011


Cara Enjoadaopasseioétodomeuquefoiopapáqueomandoupôraqui,

Da próxima vez que passares por mim, volta a olhar-me de alto a baixo com desdém, mas, por favor, certifica-te de que tiraste a etiqueta do preço da sola dos sapatos e escusas de ouvir uma gargalhada insistente na nuca. Desviar-me no passeio para TU passares à vontade? Então não, coração?

Lembro-me de, quando era miúda, esperar por Março para ver as campainhas amarelas que se apoderavam dos vasos lá em casa. Gostava da invasão de cor, mas achava ainda mais piada ao facto de ser uma imagem tão transitória.

Lembro-me de, quando era miúda, escrever o meu nome no cimento fresco e de me desviar para ir calcar a gravação que tinha feito quatro ruas abaixo. Achava graça àquela permanência.

Ainda hoje sou assim. Vejo beleza em tudo. É possível que me encontre no efémero. É possível que realize no eterno. É possível que não regule bem...

sábado, 9 de abril de 2011

Amor de Mãe é



Qual parte do meio das torradas qual quê? Hoje tive que me contentar com um mini milk enquanto o João devorava o meu Magnum delicioso...

domingo, 3 de abril de 2011

Tempos Modernos

Hoje prometi a mim mesma, quando acordei, que ia mimar-me um pouco. Sou uma mocinha que se contenta com pouco: duas bolas de gelado, chocolate quente e chantilly chegam para me deixar bem disposta! Ora, enquanto mandava abaixo o meu crepe preferido, dei por mim a apreciar um casal com 3 filhos: um devia ter cerca de 4 anos, outra por volta dos 2 e o mais novo menos de 6 meses. Depois de tirar o bebé do carrinho, a mãe arrancou-lhe a chupeta da boca e pousou-a em cima da mesa virada para baixo, o que me fez lembrar um texto que circulou pela net há uns tempos e estive a revê-lo mentalmente.

«Diferenças entre o primeiro, o segundo e o terceiro filho:

O primeiro filho sempre tem tudo documentado, filmado, fotografado. (check!)

As mães guardam os primeiros fios de cabelo e até o cordão umbilical. (check!)

O segundo já não tem tantas recordações e o terceiro não sabe sequer como foi parar àquela família!

As diferenças básicas entre os 3 primeiros filhos:

O que vestir

1º bebé – A mãe começa a usar roupas para grávidas assim que o exame dá positivo (check!)

2º bebé – A mãe usa as roupas normais o máximo que puder

3º bebé – As roupas para grávidas SÃO as suas roupas normais

Preparação para o nascimento

1º bebé – A mãe faz exercícios de respiração religiosamente (check!)

2º bebé – A mãe não se preocupa com os exercícios de respiração: afinal lembra-se que, da última vez, eles não funcionaram

3º bebé – A mãe pede a epidural no oitavo mês

O armário

1º bebé – A mãe lava a roupa que compra para o bebé, arruma tudo de acordo com as cores e dobra-a delicadamente dentro da gaveta (check! embrulhada num lençol)

2º bebé – A mãe vê se as roupas estão limpas e só descarta aquelas com manchas escuras

3º bebé – Os meninos podem usar cor-de-rosa, não é?

Preocupações

1º bebé – Ao menor resmungo do bebé, a mãe vai a correr para pegar nele ao colo (check! depois de ter estado alerta durante duas horas a ver se o bebé chorava)

2º bebé – A mãe pega no bebé ao colo quando os seus gritos ameaçam acordar o irmão mais velho

3º bebé – A mãe ensina o mais velho a dar corda ao mobile do berço

A chupeta

1º bebé – Se a chupeta cair ao chão, a mãe guarda-a até chegar a casa e fervê-la (check! se estiver já em casa, a mãe guarda-a até chegar à cozinha e ferver as 200 chupetas que o miúdo já atirou ao chão durante a manhã)

2º bebé – Se a chupeta cair ao chão, a mãe lava-a e devolve-a ao bebé

3º bebé – Se a chupeta cair ao chão, já o mais velho está treinado a apanhá-la e a pô-la na boca do bebé

Troca de fraldas

1º bebé – A mãe troca as fraldas de hora em hora, mesmo se elas estiverem limpas (check! Gastam-se muitas fraldas com um bebé pequenino! e quando caem ao chão ainda por usar??)

2º bebé – A mãe troca as fraldas a cada duas ou três horas, se necessário

3º bebé – A mãe tenta trocar a fralda antes que as outras crianças reclamem do mau cheiro

Actividades

1º bebé – A mãe leva o filhote às aulas de música para bebés, teatro, massagens, … (check!)

2º bebé – A mãe leva o seu filho a aulas de música para bebés

3º bebé – A mãe leva o filho ao supermercado, à padaria…

Saídas

1º bebé – A primeira vez que sai sem o filho, a mãe liga cinco vezes para casa para saber se ele está bem (check! cinco?! só?!)

2º bebé – Quando abre a porta para sair, a mãe lembra-se de deixar o número de telefone de onde vai estar

3º bebé – A mãe dá ordens para só lhe telefonarem se virem sangue

Em casa

1º bebé – A mãe passa grande parte do dia só a olhar para o bebé (check! do dia e da noite)

2º bebé – A mãe passa algum tempo a olhar para as crianças só para ter certeza que o mais velho não está a bater no bebé

3º bebé – A mãe passa bastante tempo a esconder-se das crianças»

Quando acordei da minha divagação, o João tinha acabado de comer o meu Chaplin. As facas da Maison des Crepes são bastante boas! Rapam pratos que é um mimo!!

sexta-feira, 18 de março de 2011

A vida é um jogo


Perdi horas e horas da minha vida em jogos. Primeiro, o quem é quem e o risco. Depois, e porque há que evoluir do tabuleiro para o mundo da microcomputação, veio o space invaders do Spectrum. Ho-ras! Logo de seguida, o prehistorik2 levou-me muitas noites de sono. Já para não falar da serpente do Nokia 3210, à espera que os filmes começassem no cinema. Claro que o bubbles é transversal! Sou gaja! Assumida!!

Ontem fui inscrever o João na escola. Pela quantidade de carros que entupiam a passagem a partir das 18h, estou a ver que vou voltar ao tetris...





quarta-feira, 9 de março de 2011

Mãe

Tenho andado a visitar escolinhas para o sr Pirata. Hoje fui ver mais uma. Estive cerca de 10 minutos no átrio, de onde ouvia a senhora que estava na recepção. Fez-me pena, coitada! Tem uma mãe tããããão chata! De 2 em 2 minutos telefonava-lhe e, cheia de paciência, lá lhe dizia

Boa tarde, mãe! Não, não o Gonçalinho ainda não acordou!

Olá, mãe! Ainda não chegaram da piscina. Tente novamente daqui a 10 minutos!

Então, mãe! Como está? Sim, já pode vir buscar a pequenota!

Porra! Que melga! Só não entendo é por que é a mãe daquela senhora tão simpática liga a perguntar pelos miúdos todos da escola!!




Na verdade, daqui a uns tempos, vai saber muito bem ouvir este mãe do outro lado do telefone.


Embora eu não me importe de lhe dar o meu nome verdadeiro...

domingo, 6 de março de 2011

Dias felizes

Há dias em que percebemos que as alegrias da vida se expandem enquanto entendermos que assim deve ser. Hoje foi um desses dias.
O meu passeio da manhã foi profícuo nesta matéria: em frente ao estádio, num parque infantil renovado, dois putos disputavam o último balouço e, engalfinhados à chapada, faziam as alegrias dos papás, que, alapados nos banquinhos, gritavam ao longe a melhor forma de espetarem ganchos um ao outro.
Logo à frente, vi numa loja um bibelô porreiro para enfeitar um naperon que tenho cá em casa e resolvi entrar. Esperei pacientemente na fila, tentando entreter uma criança de 2 anos e meio, enquanto uma família de chamemos-lhes nómadas largava 512 € (o valor do RSI depende do número de elementos do agregado, certo?) em bugigangas.
Virei logo ali na Vasco da Gama, cortando o caminho para casa.
O passeio foi longo, mas aguentei as dores nas pernas e ainda entrei numa corrida com um velhinho. Corrida que salvou o dia e que ganhei, pouco mais à frente, na montra de um quiosque, quando os olhos do simpático senhor lhe puxaram pelos braços, impedindo-o de continuar e, agarrados à bengala, se pespegaram às maminhas da capa da penthouse.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Shhh...! Shhh...! It's, Oh, So Quiet... Shhh...! Shhh...!


O último post deixou-me a pensar. Eu, que sou uma gaja apaixonada pela complexa relação poligâmica entre fonemas e grafemas, tenho afinal a minha história alicerçada em silêncios.
Lembro-me, com mais consistência do que seria de esperar, do silêncio da rua dos meus pais à hora do almoço, sob o calor incandescente de Agosto. Lembro-me de reparar que o som dos talheres contra os pratos furava as janelas e batia colericamente contra a mudez daquela hora.
Lembro-me do silêncio das tardes, durante as sestas fastidiosas na Mata, apenas quebrado pela buzina da carrinha da peixeira. Ainda sinto a cabeça coberta (a fingir a noite) pelo cobertor áspero e castanho. E ainda consigo ver o tigre rabugento a tentar saltar do cobertor para o quarto do meio, onde me infligiam aquelas horas de sono gratificante.
Lembro-me do silêncio do anfiteatro da faculdade, durante as frequências, e de só ouvir canetas a fustigar o papel e o meu coração a sangrar. Duas vezes.
Lembro-me do silêncio do início das relações, primaveril, do que se impunha no seu fim e ainda do que ficava depois dele.
Lembro-me do silêncio que invadia a barraca, na praia do carvalhido, às 21 horas, quando as gaivotas iam para casa. E eu também.
Lembro-me de tantos silêncios que acho que é por isso que gosto de viver no meio da confusão. Para não me esquecer de que não consigo viver sem eles.

sábado, 29 de janeiro de 2011

flocos de vida

Os momentos inspiradores, aqueles em que me sinto tão vazia de mundo e tão cheia do que é só meu, são cada vez mais raros. Talvez por haver agora outras inspirações e por aspirar a ser uma pessoa o mais igual a todas as outras quanto possível, acabo por me quedar na mesmice aconchegante do dia-a-dia. Mas hoje voltei a ter um desses momentos. Passei pelas brasas por breves instantes, o que me levou àquele ponto intermédio entre a consciência e a consciência de mim mesma. Os tentáculos do sol invadiam a sala como que a colher os despojos opimos antes de partir para novas batalhas. Um bizarro silêncio aplacou a lufa-lufa do costume. E lembrei-me outra vez que a minha inspiração vem do ausente. E do provisório.