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sábado, 14 de setembro de 2013

Este verão fui a feliz compradora de uma série de produtos que me deixaram bastante satisfeita. Isto, claro, é sinónimo de me ter fartado de gastar dinheiro, mas, lá está, se corresponderam às expectativas e cumprem os objetivos, é porque não são caros, têm o preço certo. Acresce ainda que eu estou a por-me fina e consegui quase tudo em dupla promoção. Comprei, por exemplo, uma depiladora Philips espetacular, topo de gama (se aquilo fosse um carro, trazia estofos em couro, ar condicionado, sensores e câmera de estacionamento traseiro, ao passo que a minha antiga máquina seria assim daquelas com abertura manual de vidros) que acumulou desconto da marca e da loja onde foi comprada. É maravilhosa. Só estranhei que, nas instruções de utilização e em vários locais da caixa, em letras maiúsculas, constasse o aviso "não utilize este aparelho para qualquer outro uso que não aquele para que foi criado". Mas afinal, quantas Samanthas Jones haverá por esse mundo fora?

E por falar em expressões populares...

Tenho uma certa taradice por carteiras e malas, confesso. Vou escondendo umas atrás das outras no armário, na esperança de me esquecer delas e fingir que preciso de uma azul-não-sei-quê ou de uma verde-qualquer-coisa. Há já muito tempo que não perco a cabeça, mas hoje passei numa daquelas ruas sem trânsito e avistei, numa montra, promoções das que me fazem sentir menos culpada se calhar de encontrar alguma que me faça levá-la para casa desnecessariamente. Não tenho nenhuma da marca que vendiam, por isso entrei e perguntei o preço final. Era gira, mas continuava cara e, como levava o Pedro ao colo, pensei que aquele valor dava para comprar muita coisa para ele e para o irmão. Ainda assim, pedi à menina que a trouxesse até à porta para lhe ver a cor à luz do dia. Foi nesse momento que começou a chover. Pesou-me a consciência. Disse-lhe Bem, vamos tirar o cavalinho da chuva. Rimo-nos e fui à minha vida.  

Acho que se chama a isto ter golpe de vista

Ando derreada. Onde me sento, aterro. Contudo, o meu bebé lindo não gosta de me ver a dormir (principalmente de noite) e assim que me apanha de olhos cerrados não se ensaia e abre-me as pálpebras quais latas de atum, mandando-me umas naifadas com aquelas unhinhas fofinhas travessas nos olhos enquanto balbucia mamã numa língua qualquer que se assemelha ao esperanto. Ai, ando derreada.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A cozinha da sinestesia

Não gosto de transições. Todos os anos sou forçada a lidar com elas, algumas bastante bruscas, mas não consigo habituar-me. O verão é tão curto e sabe a tão pouco que nem chego a acostumar, mas custa-me ver a sombra do prédio da frente a invadir-me a cozinha cada vez mais cedo e a brisa a arrefecer aos poucos.
Nesta fase do ano em que ainda estamos com um pé nas férias e outro no trabalho, embora  a cabeça tenha ficado presa às primeiras, vejo-me tentada a forçar um ritmo de pausa a um dia-a-dia que já quase não as contempla. Hoje fomos à nossa horta e, aqui, nesta cozinha, é tal a miscelânea de cheiros que nem sei para onde me virar. Duas enormes taças transbordam de maracujás, as ameixas rainha cláudia (que eu insisto em continuar a chamar ameixas dona amélia ???!!!!!???) estão ali em sacos à espera - gostava de fazer uma compota este ano, mas não me parece que até logo à noite sobre uma sequer - e as peras, espalhadas pela banca, vão já parar ao forno num daqueles bolos de massa húmida a que não posso resistir. Vou voltar à minha infância e fazer um sumo de tomate à maneira (estes vão dar compota, não há como evitar), depois de arrumar os vegetais que estão aqui pousados como me deu jeito quando cheguei. 
Em cima da mesa, umas folhitas de hortelã já boiam no jarro com limonada e as minhas crias estão de ombros encostados a ouvir uma história. Eu estou embrulhada nos dois, a cheirar-lhes o cabelo e o cachaço e a pensar que as transições são mais fáceis assim: é só vestir um casaquinho e receber o outono.