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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

❤❤

Já aprendemos os números até 20, por isso 20 é o maior número que conheço. Sabes quanto gosto de ti, mãe? 20.

sábado, 10 de novembro de 2018

Faz hoje cem anos que nasceu o meu Avô. Cem anos. Um século inteiro. Podem passar, a voar, outros cem: o legado que deixou em nós permanecerá. O olhar a abarrotar de orgulho continuará a fazer brilhar os nossos dias. O cheirinho ao assado de domingo manter-se-á à soleira da porta das nossas memórias, assim que entrarmos em casa. Levá-lo-emos connosco à saída também. Para o resto da tarde. O abraço terno ainda aconchegará os nossos dias mais tempestuosos e tornará os bons melhores. Foi este o Amor que nos ensinou,  o que ensinamos agora e sabemos que terá continuidade em quem não teve a sorte que eu tive por poder crescer na sua companhia tão viva e presente como ainda hoje é.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Hoje ia a caminho do trabalho, logo pela manhã, quando comecei a sentir ar frio a bater-me na cara. Verifiquei os vidros: estavam fechados. Verifiquei o ar condicionado: estava desligado. Verifiquei a chaufagem: nada. Mas que raio. A porra do ar continuava a dar-me na cara. O tempo que levei para perceber que estava a chupar um halls extra strong!

sábado, 20 de outubro de 2018

Sai à mãe #1

Fomos ao armazém dos disfarces (aka espaço de arrumação do sommier) apetrechar-nos para o Halloween, mas o Pedro borrifou-se para os bruxos, esqueletos e abóboras assim que encontrou um fato do super-herói preferido que lá estava desde outros carnavais. Vestiu-o e correu pela casa de capa a esvoaçar.
Aqui um parêntesis: este início de escola, a aprendizagem das letras e dos sons tem sido uma surpresa admirável para o menino. É muito curioso no que toca a linguagem.

Uns minutos de voo depois, vem contar-me a sua descoberta.

Mãe, estive a pensar. Ora ouve isto: cá em casa o herói é o "super ó mãe"!!

Filho de peixe...

Literatura financeira

Num corredor da Fnac, o João passa pela secção da literatura portuguesa. Cruza-se com uma imagem de Fernando Pessoa graffitada contra uma parede.

Mãe, olha aquele senhor que está no teu cartão multibanco.



domingo, 23 de setembro de 2018

domingo, 9 de setembro de 2018

Pai, podemos comprar este jogo?
Não, filho, esse jogo é demasiado caro.
E tu não tens dinheiro, pai?
Não tenho dinheiro para este jogo, pequenino.
Vou contar-te um truque para teres dinheiro, pai: tu tens que dar os teus dentes.
?!?
Sim, podes trocá-los por dinheiro com a fada dos dentes.

:)

Em vésperas do início da escola, o início que marca, para os dois rapazes desta casa, uma nova vida, há duas ou mil coisinhas que quero recordar para sempre. Não vou registá-las aqui porque estão em cada parte de mim, sou feita delas e não quero mostrar-me assim toda.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

As conclusões aqui apresentadas são fruto de um longo e apurado estudo a que me propus neste verão. Pessoalmente, é francamente fácil efetuar uma pesquisa desta estirpe, já que sou do tipo que demora duas horas a ambientar-se ao bloco de gelo que temos ao longo da costa e a que muitos gostam de chamar mar. Começo por dizer palavrões em jorro da toalha até lá baixo, testo primeiro com os dedos dos pés, afasto-me dois metros, volto a tentar durante aí... digamos... uma hora e regresso aos palavrões. De seguida molho-me até aos joelhos, altura em que deixo de sentir tudo dali para baixo. E dali para cima também. Incluindo a vontade de permanecer lá em baixo. Riam-se à vontade, mas isto é doloroso para quem tem filhos que desconhecem o facto de a praia ter areia, de ser possível ler um livro com os gritos das gaivotas e do vendedor de bolas de berlim como música de fundo, de jogar qualquer coisa, qualquer coisa mesmo: bola, cartas, raquetes, a paciência da mãe para o esgoto, sei lá...

Vamos lá então. Que tipos de pessoas encontramos na água?
Ora, em primeiro lugar, parece-me justo apontar os adolescentes que saem em correria de casa já a despir-se, espetam atleticamente os indicadores no boião do protetor solar para traçarem dois riscos debaixo dos olhos e vão por ali fora a saltar selvaticamente para finalmente chegarem à água e mandarem grande chapa.
Registo igualmente os velhotes enxutos que chegam à praia vindos de todos os quadrantes para se juntarem num ponto central do areal como se lá tivessem deixado um X a marcar o local de encontro. É quando estes senhores chegam à praia que nós, trinta quarenta anos mais novas, encolhemos a barriga e tapamos a cara com uma toalha para esconder a vergonha. Uma vez no mar, nadam para a linha do horizonte e não voltamos a vê-los. Talvez cheguem aos Açores. Quem sabe?...
Temos depois as senhoras da alta meia-idade, com os seus cabelos impecavelmente penteados, que entram na água com toda a tranquilidade. A estas senhoras costumo chamar cruzeiros: nadam de um lado para o outro, calmamente, de nariz a apontar para o céu e queixo extremamente franzido, mantendo o penteado imaculado, nem um fio de cabelo molhado. Não sei como mas conseguem escapar incólumes aos índios do primeiro grupo.
Há ainda os casais de namorados. Sobre estes não há muito a dizer. Apenas que se afastam o suficiente para ninguém ver o que estão a fazer, embora toda a gente saiba que não foram para lá jogar ao sério.
Por último, há nas praias deste belíssimo país as mães quarentonas que não conseguem ser salpicadas pela água sem que lhes regelem todos os ossos que têm no corpo. São as que fazem estudos como este.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Gosto que te deites ao meu lado, mãe. Quando sais, o cheiro do teu cabelo fica na almofada e é um cheiro tão bom. Cheira a mãe.

terça-feira, 31 de julho de 2018

A mãe é de cristal

Escrevi aqui há uns tempos que o amor é aprendido. O mimo também. E o cuidado.
Numa casa com muito pouca feminilidade, sendo eu própria uma maria-rapaz, há bastantes correrias despojadas, jogatainas cobertas de suor e pouco tempo e disposição para pormenores e salamaleques. Ainda assim, os meus filhos interrompem tudo para me mimar e têm o máximo cuidado na forma como se dirigem a mim. Fazem de tudo para que esteja bem, defendem-me em todas as situações, mesmo (especialmente) quando não tenho razão e terminam todas as conversas comigo com um beijinho repenicado. Há muitos beijos nesta casa, caramba. Têm sempre em atenção a minha suscetibilidade e envolvem-me sempre com carinho. Mesmo quando não é preciso. Ou seja, sempre.




Fiz um desenho, mãe.
Fizeste, Pedro? Mostra lá!
Olha.
Que lindo! Quem são?
Eu, o mano e o pai.
Está muito bonito!


Pausa pensativa, com ar de quem teme ter ferido os sentimentos da mãe


Tu não estás no desenho porque tinhas ido trabalhar.



terça-feira, 24 de julho de 2018

O professor é um recurso obsoleto

Com explicações intensivas durante o ano, resumos de todas as obras e da matéria feitos por outrem e formulários e tabelas de constantes nos exames, já ninguém precisa de professores. Nas escolas, os tablets substituem os livros, que, por sua vez, já substituíam bem os professores, se bem usados. Aqueles, não estes.
Na verdade, se houver destreza quando se lida com o conhecimento, o professor nunca é necessário. É mais um instrumento poeirento na sala, a sua utilidade assemelha-se à de um mapa ou de um apagador.
Mas então e o resto? Ter alguém nos bastidores da aprendizagem que vibra com as conquistas de palma da mão em palma da mão, dedos cruzados de quem espera? O ponto a sussurrar ralhetes do trou du souffleur quando a coisa vai mal? A eficácia é a mesma, acho eu. Mas perde-se muito em brilho no olhar. 

sábado, 21 de julho de 2018

Arrumações com alma

Estou a guardar roupa. Estes momentos deixam-me sempre com borboletas na barriga: casaquinhos que já não servem, dobrados cuidadosamente, meias pequeninas nas quais já não cabem pés, tenho para mim que a nossa garagem conserva mais memórias do que a minha consciência aguenta.
De vez em quando lá vem o arrepio nostálgico. E esse hoje foi mais profundo do que nos outros verões, quando me apercebi que, a partir de certa altura, nas etiquetas do interior dos bolsos onde carinhosamente escrevo o nome dos miúdos, é a caligrafia do João que identifica as peças do Pedro. ❤❤

sábado, 28 de abril de 2018

Temos um clube de leitura cá em casa: "A páginas tantas" - sugestão do João. O Pedro gostou da ideia e mal pode esperar por participar nas tertúlias com mais do que livros com poucas letras. 
Depois de despachar os novos, fui buscar os meus clássicos. Tem sido um espanto relê-los agora, depois de tanta vida entre esta vez e a outra. 
Mas hoje, hoje senti um choque que me arrepiou até ao quark mais pequenito. Estou a reler o meu favorito de todos os tempos. Pelo caminho, vou encontrando anotações, poemas (que mania a minha, escrever em tudo o que aceitasse tinta ou carvão), esboços e datas. Não sabia bem por que o fazia, mas tinha mesmo uma obsessão por ir cravando datas em tudo o que me passava pelas mãos. Hoje percebi porquê.
Numas das últimas páginas, entre a emoção das despedidas da história e a emoção de recordar que as lágrimas já me lambiam a cara, naquele dia, na carruagem dos bancos de couro macio, gasto no comboio para o Porto, encontrei uma data. Havia mais: havia a hora exata. 

                     

Vinte anos. Vinte. 
Como assim o comboio já chegou à Avenida de França? 
Perdão, agora é Casa da Música.

domingo, 1 de abril de 2018

Outro sentido

Devemos ter outro sentido. Um que comanda todos os outros. Aquele que destrava as memórias que temos amarrotadas lá para o fundo da gaveta. 
Hoje, quando ouvi o estridular do sino do compasso, senti o cheiro das folhas de hera e das pétalas dos junquilhos esborrachadas no pátio pelos passos incessantes de sapatos a estrear. Revi a mesa da sala que só abria portas para ocasiões solenes farta de pão-de-ló caseiro com a espessa fatia de queijo a entremear as duas porções amolgadas por dedos pequenitos. Senti-lhes o sabor: ora esponjosidade ora rijeza, ora tradição ora magia. Veio-me, então, à ideia a visita de estudo que fizemos na escola primária a uma fábrica de queijos e do fascínio que de lá trouxe pelo coalho. E daquela mesa pascal passei para a mesa da outra cozinha, aquela onde amassávamos a massa de filhós e voltei a sentir o seu perfume azedo enquanto levedava e segurei outra vez o cortador ondulado entre a mesa e a mão ainda nova da minha avó e os miúdos entraram a correr e fizeram-me voltar a sentir-me nos meus pés.

Memórias dentro de memórias.
Outras Páscoas.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Aquilo da gaveta dos bodies já lá vai, mas...

Há uns dias encomendei uns vestidos online. Já os tinha visto na loja física e embora o preço não me tivesse seduzido, fiquei a pensar neles. Sabia que ia estar fora de serviço durante uns tempos e não conseguiria apanhar as promoções, portanto coiso e tal e chegaram hoje. Ainda que não esteja em condições físicas para os experimentar, pedi ajuda e lá verifiquei que o tamanho era aquele. Enquanto isso, fui recebendo sinais de que os rapazes cá de casa não gostam lá muito de me ver de vestido e que aquelas minhas escolhas não iam ajudar muito a mudar essa opinião. Que pena. Eu gosto deles. Dos vestidos. Dos rapazes mais ainda. O que acontece é que, quando estamos em baixo, sabe bem ouvir coisas boas, não que fazemos más escolhas em termos de encomendas, portanto, como nos conhecemos bem, o meu silêncio indicou que não estava lá muito aflita com o facto de não gostarem e que os vestidos eram para mim, não para eles e que os miúdos não eram para ali chamados, uma vez que até estavam na sala e ainda não tinham visto os vestidos e ajuda-me mas é a tirar este para poder voltar para a cama. Ainda o fecho ia a meio das costas quando o João passou a correr. Tinha ia buscar qualquer coisa ao quarto. Voltou para trás mantendo o mesmo ritmo nos passos e atirou-me, com o seu ar sensato do costume:
- Mãe, não vais agora limpar a casa depois de seres operada, pois não? Tira o avental e deita-te a descansar!
Não sei se o que ouvi a seguir foram os passos do João de volta à sala, se foram as gargalhadas engolidas do pai enquanto me tirava o vestido para me devolver ao descanso.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Sou uma mariquinhas

Tenho uma aflição arreigada em relação a agulhas. Desde que me conheço que vacinas, análises, injeções, tudo o que envolva uma agulha perfurar uma qualquer parte do corpo, o meu ou o de outrem, me dá calafrios. Aperto os dentes uns contra os outros só de pensar nisso. Já experimentei de tudo: desviar o olhar, pensar noutra coisa, imaginar-me noutro sítio, conversar com quem lá está, falar sozinha, cantar e até, durante cada gravidez, enfrentar a coisa acompanhando cada passo fixamente. Ajudou durante uns tempos, especialmente vê-la furar a pele e seguir o curso do sangue até aos tubos, a etiquetagem, novo tubo, por aí fora. Mas acabo por voltar sempre a esta impressão visceral que me causam as agulhas, as veias, o sangue.
Ora, quando me vi na necessidade de ser operada, com recurso a anestesia geral, que nunca tinha feito até aqui, andei uns bons dias a remoer, a construir cenários e fazê-los desabar, a temer e a tremer. Convenci-me que era este pormenor da anestesia que me deixava mais tensa.
No dia da cirurgia, durante a preparação, quando chegou a hora de introduzirem o cateter, respirei fundo e revivi a aflição. Doeu ainda por cima. E doeu muito. Queixei-me. E foi aqui que a minha relação aquietadora com as agulhas e todo o processo que envolveu aquele dia começou. 

- Ai... - queixei-me então.
- Dói? É natural: esse é o cateter mais grosso que cá temos.

Olhei para a veia e vi o tubo enorme que lá tinha enfiado, causando-me uma dor imensa (mais na confiança na verdade) e uma montanha no dorso da mão.
Descemos entretanto para o bloco. Pelo caminho, cruzamo-nos com pessoas que sorriam para mim, ou do meu nervosismo indisfarçável.

- Vamos agora entrar no elevador. A ver se despachamos isto que já vi que está nervosa.
- Pois estou. Terá alguma coisa a ver com o facto de ter o seu cateter mais grosso enfiado na minha veia?
- É natural que esteja assim. Olhe eu cá nunca fui operada e ainda bem! Nem sei se era capaz! Que horror! Ainda por cima para nós é ainda mais complicado, porque sabemos exatamente o que se passa lá dentro.
- Hummmm... sinto-me melhor agora...
- É que nem imagina! E ainda por cima ser entubada e tudo... que horror!
- Estava aqui a pensar: acha que dá para a anestesista vir tratar de mim já aqui no elevador?

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Tugaspertice

Uma pessoa que conheço mandou arranjar um aspirador que deixou cair e se partiu ao meio. Quando o foi buscar, cobraram-lhe 20 euros e entregaram-lhe isto:

Não consigo parar de rir.

Pensar alto

Hoje, no supermercado, na fila para pagar, estava um tipo à minha frente que levava: uma garrafa de gin, outra de vodka, uma caixa de preservativos e 4 ou 5 pepinos. À medida que os ia tirando do cesto, a senhora da caixa ia arregalando os olhos e um sorriso maroto tentava escapar-se-lhe pelo canto da boca. Mas foi à cliente que estava atrás dele que saiu um Vai haver festa! mais alto do que pretendia.