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terça-feira, 28 de julho de 2020

domingo, 26 de julho de 2020

Dizem que hoje é dia dos avós. Tenho andado a pensar que, sem ofensa para o Inventor disto tudo, às tantas as coisas estão todas ao contrário. Anda uma pessoa toda a vida a construir - ergue uma casa, semeia um jardim, alicerça uma família, acolhe os netos no colo - para depois deixar cá corações em ruínas. Então não seria melhor, Inventor, que, quando chegasse a hora, partissem antes as paredes, por muito triste que fosse para quem tanto suor limpou da rosto a por tijolo em cima de tijolo, partissem antes os canteiros de salsa, cuidados com tanto amor, partissem as ferramentas na parede da oficina, partissem os canteiros coloridos de granjas e estrelícias, que deram muito trabalho a manter, é certo, mas não seria melhor e mais justo que fizéssemos a despedida dos carrinhos de mão e das mangueiras, das enxadas e das vassouras de folhas castanhas? Não seria melhor e mais justo deixar ir as macieiras e o velho castanheiro? Ou que o padre viesse ajudar-nos a beijar pela última vez o cheiro da figueira ao pé do poço? Despedíamo-nos das roupas na arca, da louça no aparador, dos muros caiados, da fonte do menino no centro do jardim, do arame onde se entrelaçam as mãozinhas encaracoladas do feijão verde e dávamos as nossas ao avô, pousávamos-lhe o braço sobre os ombros curvados pelo tempo e seguíamos juntos para casa para sempre. De certeza que ele ficaria triste por ver desaparecer tudo o que as suas mãos tinham construído, mas o nosso colo consolá-lo-ia tal como o seu nos amparou as lágrimas de cada queda que demos quando éramos pequenos. Que pena ser tudo ao contrário. 💗