O céu está carregado. Tenho que me despachar. Saio da frutaria carregada de sacas carregadas de fruta. Passo apressado, não vou aguentar até casa sem pousar isto tudo no chão. Só mais um bocadinho, só mais um bocadinho!... Ai ai ai... Mas tenho que aguentar! Não vou pousar isto no chão imundo! Ai ai ai... Tenho que me concentrar, a dor nas mãos e nos braços é só psicológica! Os dedos não estão inchados, nem os braços a ceder ao peso. Ai ai ai...
Cruzo-me com uma velhinha mesmo ao virar da esquina da minha rua. Arrasta-se com um saquito que não deve ter mais do que dois pães. Na mão traz o talão das compras, que lhe voa com uma rajadazita de nada.
Lá pouso as sacas no chão (pegajoso e cheio de nódoas), apanho o talão e entrego-lho, coitada, que não se pode agachar.
- Ah, minha querida, não quero isso para nada. Fui eu que o deitei fora. Já agora faz-me o favor de o pores no lixo e que Deus te pague quando quinares!
Hein?!?