mais memórias para:
verdepinheiroemsepia@gmail.com

domingo, 21 de agosto de 2011

Plurissignificação e subjectividade



Hoje fomos apanhados por uma grande chuvada acompanhada de trovoada. Ainda tentei manter-me na praia, mas a coisa agravou-se e foi impossível. Estava ao pé do mar, corri o mais rapidamente que pude até ao carrinho do miúdo, agarrei em todas as nossas tralhas que estavam espalhadas pelo areal, enfiei-as nos sacos aleatoriamente e percorremos dois quarteirões, no meio da debandada geral (à nossa frente, um guarda-sol com pernas quadradas e mal depiladas e um bebé ao colo corria e gritava com voz máscula "Eia, man, que parecem Kalashnikovs!"), para encontrar uma varanda que nos protegesse. Ela ficava por cima de um café. À porta estava um cavalheiro a apreciar a confusão, fumando um cigarro pensativo, como dizia o outro. Eu levava o João no carrinho e os sacos todos pendurados. Afastou-se milimetricamente para nos deixar aproximar: "Chegue-se para dentro, agasalhe o menino!", disse amabilíssimo. Eu ia aproximando toda a carga do senhor e ele ia repetindo Chegue-se, chegue-se, que ela cai forte!
O chuveiro foi abrandando, calmamente, até que parou em definitivo. Mas o homem achava que não, que ainda caía forte ou que ainda voltaria a cair e insistia e insistia. Lá nos fizemos ao caminho, para regressar a casa.
Uns metros depois apercebi-me que levava uma mama de fora.