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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A vista daqui às 6 da manhã

O vizinho da frente esqueceu-se da luz da varanda acesa. Fere-me a esta hora, a tremelicar assim. Não há mais vida para além da sua hesitação. A rua está vazia. Não há reflexos nos vidros. Não cai uma gota dos telhados. Há apenas alguns carros à espera, outros abandonados. As janelas fechadas, algumas esquecidas abertas. Nem um gato, nem um pássaro. Estão todos escondidos. Não devem gostar desta sensação de vida suspensa. Até as árvores, normalmente em rebuliço, estão paradas. Os candeeiros rompem do chão, estáticos, acesos aqui e ali. Mas nem reparo nesses. Vejo os que a Câmara mandou desligar. Sinal dos tempos. Ouve-se um carro, ao longe, mas nem o som se aproxima. O seu destino não passa por aqui. Ninguém aparece, nada se mexe.
Devia ir para a cama. Devia escrever voltar para cama, mas não: é mesmo ir para lá. Afinal, daqui a a nada, começa o movimento e tudo isto deixa de ter encanto. Custa-me é perder a aurora.