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sábado, 12 de novembro de 2011

Terra molhada


Vim à varanda recolher a roupa. Um vento quente que não esperava fez-me levantar o cabelo de um lado para o outro num movimento incessante daqueles que nos parecem levar para outro sítio que não conhecemos.
Apanhou-me desprevenida esta lestada persistente, que teima em me pairar sobre a pele. Penso que é isso o arrepio perfeito: aquele que nos faz levitar por dentro com os pés agrafados ao chão.
O arrepio que senti à primeira pancada do vento na minha cara levou-me a querer ficar mais um pouco. E sentir o cheiro a está quase a chover. Adoro este cheiro. Faz-me voltar a outros locais e momentos que nem sei bem quais são. É o cheiro anterior àquele de que todos falam, por acharem piada à terra molhada depois de não chover há muito tempo. Prefiro o que vem antes desse. O da promessa. Da expectativa.

Aguardo os primeiros pingos de braços estendidos para fora da varanda. E cai um. Depois outro. Param. Oh! Parecia que ia chover!

E chove. Quando já não a esperava outra vez, a chuva cai com uma violência impressionante. O vento parece perder a fibra com que me recebeu há bocado. É um triste. Fugir por causa de uma chuvinha destas!

E daí... já estou um pouco molhada e agora o arrepio já não é tão estimulante e deixou de me isolar do mundo cá dentro. Sinto genuinamente que me perco de mim quando os meus poros se contraem assim. Vou para dentro antes que estrague o computador.

Sou uma triste! Fugir de uma chuvinha destas...



Raios! Deixei lá a roupa!